sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
E aí, Jesus!
domingo, 19 de dezembro de 2010
Amigo secreto
sábado, 11 de dezembro de 2010
Querido diário
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Shopping centers
No entanto, uma coisa é consenso: Quanto mais gente aglomerada em um espaço restrito, mais ofuscados os exemplares dignos da espécie se tornam. As multidões têm a estranha capacidade de fazer com que até o mais louvável dos seres se porte da maneira mais irritante possível. E enquanto a maioria dos aglomerados reúne elementos de uma mesma tribo ou partidários de algum interesse comum qualquer, existem ambientes em que encontramos absolutamente todo tipo de gente – verdadeiras placas de petri sociais: Os shopping centers. E se podemos dizer que existe alguma coisa no mundo que se aproxima da pior definição de inferno de que se tem notícia, é seguro dizer que são os shopping centers nos finais de semana.
Qualquer shopping center que se preze conta com o kit completo para irritar até mesmo o mais devoto monge tibetano: Em primeiro lugar, é o palco onde os adolescentes ensaiam suas pecinhas de conquista. Por alguma razão, é extremamente normal encontrar matilhas de jovens do mesmo sexo à procura de uma presa fácil – ainda que não se tenha notícia de alguma caçada do gênero que tenha trazido qualquer sucesso aos protagonistas. Mas isso pouco importa: Sábado após sábado a molecada se dirige em peso, em busca de romance, aos centros comerciais – que de românticos não têm absolutamente nada.
“Ah, mas a presença massiva de adolescentes não é motivo suficiente para evitar um ambiente, caro autor”, você diz. Discordo. Mas seguindo essa linha de pensamento, devemos nos lembrar que os antagonistas dos adolescentes na linha da vida – os velhinhos – também encontram-se muito bem representados nos shopping centers. E velhinhos são fofos, velhinhos são legais, velhinhos são bonitinhos. Mas velhinhos em shopping centers são extremamente irritantes. Para começo de conversa, há os quase noventa porcento das vagas de estacionamento dedicadas exclusivamente a eles [sei que a porcentagem não chega a tanto, mas certamente me parece – cada vez que eu tenho que procurar uma vaga para colocar o carro]. Mas os velhinhos, que consideram tais vagas humilhantes, não as utilizam... bem, nunca. Pela mesma razão, evitam ao máximo o caixa eletrônico preferencial – preferem pagar todas as contas no único caixa que tem saque, e no único dia da semana em que a população do shopping center se aproxima de quatrocentas e trinta e nove pessoas por metro quadrado. E você, que só queria tirar dois reais para comprar uma casquinha do McDonnald’s, deve se contentar em contemplar aquele caixa preferencial vazio enquanto a fila atrás de você aumenta.
Velhinhos e adolescentes, adolescentes e velhinhos – não dá para ficar pior do que isso. Mas dá. Porque os shopping centers, além de uma Torre de Babel de aniversários, é também o ponto predileto dos casaizinhos cuti-cuti. Afinal, que outro lugar seria melhor para estes verdadeiros praticantes do amor eterno demonstrarem ao mundo seu amor épico, do que um ambiente repleto de expectadores? E aí você está lá, esperando a sua vez na fila quilométrica de algum restaurante da praça de alimentação – pacientemente, sempre pacientemente. E quando está quase definhando de fome, a um passo de ser atendido, o casalzinho que se encontra imediatamente à sua frente na fila se atraca. Chega a vez deles, e eles não notam. A moça do caixa chama, re-chama, re-re-chama... mas aquele amor é grande demais para que eles ouçam. Mas a sua fome é maior – quem nunca cometeu um duplo-homicídio mental em uma hora dessas, que atire a primeira pedra.
Adolescentes, velhinhos, casaizinhos. E passeadores – não podemos falar de shopping centers sem mencionar os passeadores. Sim, caro leitor, existem pessoas que se dirigem a um shopping center lotado no fim de semana com o intuito único de passear. E estes levam a família, é claro. E enquanto você traça na sua cabeça a menor rota possível para chegar do ponto A ao ponto B, irritado por precisar estar ali por alguma razão inadiável, os passeadores treinam para o casamento e param em vitrines – sem dar luz de freio. Você os tenta evitar, desvia, muda a rota on-the-fly buscando os corredores que tem menos vitrines – mas nada parece adiantar. Porque os passeadores detestam outros passeadores – acham que eles estão ali unicamente para atrapalhar aquela tarde tão gostosa em família. E te seguem, mesmo nos confins mais ermos do shopping. É nesses momentos que uma insuportável sensação de claustrofobia me acomete e eu me lembro com carinho daquele vídeo-clipe de Bitter Sweet Symphony – e tenho vontade de sair atropelando todo mundo.
Odeio shopping centers, e os odeio ainda mais nos finais de semana. Você certamente já ouviu alguma comparação dos shopping centers a formigueiros. Pois eu discordo dessa analogia, e esclareço o porquê: Nos formigueiros, embora a população por metro quadrado seja relativamente a mesma que nos centros de compra, existe certa organização. Uma organização aparentemente caótica, é verdade – mas ainda assim criteriosa. As formiguinhas estão ali porque suas vidas dependem daquilo, e todas trabalham para um objetivo em comum. Bem diferente dos shopping centers, onde encontramos um buzilhão de pessoas reunidas pelos mais "inrelacionáveis" motivos. E o fato de este texto ter sido idealizado num sábado, e em um shopping center lotado, me faz pensar por que diabos a gente ainda se submete a esse tipo de coisa. E aí me lembro que, sendo integrante da Humanidade, não tenho melhor razão para justificar minha própria insensatez.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Fofo é o escambau!
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Descomunicação
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Intuitável
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Mudança
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Nece... o que?
Celular toca. Toca. Toca. Ignoro – o metro e meio que me separam do aparelho não podem ser cobertos pelo meu braço, por mais que eu me esforce em esticá-lo [motivo pelo qual a cerveja se encontra a quarenta centímetros de mim]. “Se fosse importante ligariam em casa”, penso. Telefone de casa toca – saco.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Herdeiros do amanhã
Ah, enfim chegou o Dia das Crianças. Data mais linda, em que celebramos a inocência e a pureza dos pequenos pimpolhos que nos trazem tanta encheção de saco alegria – e que nos mostram que a vida ainda vale a pena, que o mundo ainda não está completamente perdido. E quem nunca sorriu bobamente ao presenciar um destes projetinhos de seres humanos protagonizando alguma fofurinha indescritível, é porque tem o coração gelado e está irremediavelmente morto por dentro. E estes, em geral, exercitam sua frieza e insensibilidade escrevendo textos cínicos sobre as criancinhas, em plena semana do Dia das Crianças – o que eu, particularmente, considero um absurdo inominável.
Sim, porque nenhum adulto em sã consciência deveria ser capaz de não gostar de crianças. Ok, ok, elas são barulhentas, relativamente indomesticáveis, melequentas, birrentas e em geral não cheiram bem – mas nada disso se compara à alegria que trazem àqueles que convivem à sua volta. Os fabricantes pais que o digam – pois a cada brincadeira ou peripécia, estes experimentam a mais saudável sensação de plenitude que se é possível experimentar na vida. Pobres daqueles solitários adultos que nunca experimentarão, por opção ou falta dela, este sublime sentimento que é ser pai: Ter um monstrinho pequerrucho para chamar de seu – não há objetivo de vida mais nobre do que este, suponho.
Mas infelizmente, ainda não fui agraciado com uma pessoinha-mirim para adestrar segundo meus próprios valores. E sei que ninguém sensato abriria mão de contribuir para a superpopulação global com mais um indivíduo, posto que é exatamente isso que a sociedade espera de nós “enquanto cidadãos”. Este mundo lindo, perfeito e justo em que vivemos deveria ser aproveitado ao máximo – se não por nós, por nossas crias. E se não por elas, por suas crias – e assim sucessivamente. E assim, de geração em geração, a Humanidade vai passando para a frente a responsabilidade da restituição de valores de que as gerações anteriores se esqueceram, descuido este que faz do nosso mundo um cenário menos lindo do que foi o mundo dos nossos antepassados. Salvadores – a maioria das pessoas enxerga em seus próprios filhos salvadores de tudo o que houve de mais belo. Mas se esquecem que, um dia, eles também foram vistos como os messias da sua época – e muito provavelmente falharam em sua tarefa de resgatar o mundo das atrocidades de outrora. E dessa forma, não lhes resta outra opção além de espalhar sementinhas de esperança pelo mundo, pois – essas sim – serão capazes de reverter a famigerada inércia apocalíptica que nos arrasta para um irremediável e doloroso fim dos tempos.
Por isso, me desculpem se, ano após ano, tenho menos esperanças quanto à nossa permanência indeterminada, enquanto espécie, nesse mundão lindo de meu Deus. Não é inconformismo, é apenas discordância declarada do senso comum – recuso-me a pensar na nossa juventude como “o futuro da nação”, ou como “os herdeiros do planeta”, ou ainda como “a geração de Aquário”. Atribuir tamanha responsabilidade a quem acabou de chegar nessa balbúrdia, quando nem mesmo nós – os protagonistas vigentes dessa pecinha terrena – fomos capazes de contribuir para o melhor espetáculo possível, me parece no mínimo insensatez comodista. E confesso que me sinto mais orgulhoso ao ver um velhinho reciclando lixo, ou uma senhora na meia idade auxiliando o próximo, do que quando presencio o nascimento de uma nova “semente de esperança” – trazida a um mundo torto por adultos tortos, que acreditam que sua contribuição para a sociedade já foi concluída com a produção daquele pequeno “herói do amanhã” que acaba de receber a dádiva da vida. “Mas eu nasci para ser mãe...” – compreendo, mas sinto que já temos exemplares demais de parideiras. Estamos em escassez de “Quero fazer a diferença antes de morrer” e de “Eu queria ter filhos, mas antes há muita coisa a consertar”.
Chances – todos temos chances incontáveis de melhorar o mundo com nossa curta passagem por essas bandas. Pode ser uma contribuição mínima, ou algo mais impactante – pouco importa, na verdade. A grande questão é que acomodar-se na posição de produtor de seres humanos, na esperança de que estes façam todo o trabalho sujo por você, não me parece a melhor forma de aproveitar sua estadia no nosso planetinha tão acolhedor. E papais e mamães, de uma vez por todas: Gente que não tem filhos não é – compreendam de uma vez – digna da sua pena. Não somos pobres seres humanos incompletos que abriram mão da dádiva do Senhor em nome de um estilo de vida hedonista – não todos, ao menos. Muitos de nós, na verdade, nos fazemos muito mais plenos do que vocês – e preferimos tentar botar alguma ordem na casa antes de trazer novos visitantes por aqui. Teremos tempo? Possivelmente não. Mas ao menos temos a consciência de que a bagunça é nossa e portanto é também nossa a responsabilidade de tentar fazer do mundo um lugar minimamente apresentável – ainda que, neste caso, para os seus filhos. Não nos agradeçam – apenas nos poupem da sua piedade progenitora cega.
E assim concluo minha pequena homenagem à molecada. E ao invés de exigir que se façam mais competentes do que nós enquanto guardiões do mundo, sugiro apenas que se divirtam em sua passagem por aqui. Se conseguirem fazê-lo sem interferir negativamente na diversão dos coleguinhas, ótimo. Se forem capazes de reverter o cenário hediondo que só piorou com a visita dos seus papais e mamães, tanto melhor. Mas não espero que tenham sucesso na empreitada, nem que se crucifiquem por não conseguirem salvar o mundo. Nós também não conseguimos.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Virtualices
Você abre a geladeira e procura uma latinha de cerveja. Como na maioria das vezes, você não encontra [as cervejas têm o estranho hábito de se ausentarem quando se fazem mais necessárias], mas isso não é problema: Basta fechar a porta, digitar “cerveja” no painelzinho futurista que se apresenta na sua frente e aguardar o moço da entrega lhe trazer um engradado do néctar dos deuses. Legal? Certamente. Ficção científica? Já foi – os primeiros protótipos de geladeiras interativas já estão dando as caras por aí. Bizarro? Sem sombra de dúvidas. Mas bizarro ou não, a cerveja chega rápido e meu fígado impaciente agradece.
Há cerca de quinze anos, bizarros eram os poucos computadores pessoais que traziam a estranha habilidade de se conectar ao mundo através dessa tal de Internet. Ainda me lembro nitidamente daquele som característico, que lembrava o desespero de um gato enclausurado em uma panela de pressão, que o modem fazia ao TENTAR me ligar ao mundo – tentava, tentava e muitas vezes desistia. Mas quando conseguia, me permitia passar noites em claro conversando com meus outros dois ou três amiguinhos que também tinham Internet – tudo pelo ICQ, mIRC ou chat da UOL. Não existiam Orkut, Twitter, MSN, Webcam, Facebook, FarmVille, blogs ou sei-lá-o-que-mais. Eram, portanto, tempos menos modernos e mais simples.
Hoje, as comunidades virtuais dominam o mundo. E mesmo que você vista uma boina, deixe a barba por fazer e assuma uma postura de “Che Guevara de boutique” – e se recuse a ter Orkut ou algo que o valha – sinto informar: Você está aqui agora, lendo este texto que foi escrito por alguém que nunca viu e provavelmente mora em outra parte do planeta. E assim, você não se encontra em uma situação assim tão distinta daqueles que passam os dias cultivando alfaces em suas fazendinhas virtuais, nem daqueles que bebem com os amigos avatares no Twitter às sextas à noite – quando poderiam estar em bares reais, acompanhados por pessoas reais. Você também poderia estar lendo um livro real – mas está aqui comigo, não está? Pois então – somos escravos do mesmo Deus de mentirinha, criado por bits e bytes e adorado por seguidores que se disfarçam de JPEGs. Resistir é inútil – mas se você ainda quiser tentar, acesse o ReclameAqui.com e acrescente seus pensamentos ao banco de dados.
É interessante pensar que muita gente substitui uma parcela considerável da vida real por essa tal de virtualidade. Há inclusive aqueles que preferem sua vida social virtual à real, e trocam noitadas tradicionais por algumas horas a mais na frente do computador. Confesso que não posso culpá-los: Me parece muito mais confortável passar a noite cercado por janelinhas e letrinhas, ao som dos meus MP3s prediletos, do que passar a mesma noite cercado por gente de carne e osso desinteressante e conversas insípidas, ouvindo algum batuque moderno desses que não me agradam nada. O mundo virtual também me permite encher a cara sem medo das batidas policias na volta para casa, fumar em local fechado – minha sala de estar – e encerrar conversas desagradáveis com um leve movimento de dedos. O mundo real, por outro lado, me garante uma ou outra experiência física válida [dentre tantas outras frustrantes], me obriga a vestir camisa e a trajar algo menos confortável que meu short azul-marinho de algodão. A concorrência é desleal.
E aí vem aqueles japoneses malucos sujeitos extremistas dizendo que é possível se apaixonar online. Hoje, é cada vez mais comum gente que se casa sem ter nunca sequer encontrado o(a) noivo(a). Acho lindo – longe de mim condenar qualquer forma de amor, ainda mais uma assim tão moderna e tecnológica. Mas vem cá, convenhamos... como DIABOS alguém se apaixona por um bando de letrinhas e imagens de vídeo, um personagem criado por outro alguém sentado do outro lado da tela? Como é que alguém tira o retrato do ser amado de cima do criado mudo, e coloca um bitmap no lugar? Cheiro, gosto, presença – sempre acreditei serem componentes cruciais para o envolvimento emocional, mas talvez sejam apenas meros detalhes. E o Admirável Mundo Novo não se atém a detalhes – prefere se ater a ideais. Relacionamentos criados a partir de ideais: Acho esquisito. Há quem diga que é possível, mas até aí tem louco pra tudo nesse mundo.
Vivemos em tempos estranhos, não há dúvidas disso. O mundo lá fora continua, talvez, tão convidativo quanto antes – mas nunca tinha encontrado competição à altura até agora. “A realidade é melhor que qualquer ilusão” – poucos contestariam. Mas mesmo a realidade sempre exigiu um certo faz-de-conta, um fingimentozinho básico de quem a idolatra: Trabalhar cedo fingindo bom humor matinal, esconder aquela espinha teimosa com maquiagem, evitar de mandar o chefe à merda quando é só o que nos passa pela cabeça, balançar assertivamente a cabeça enquanto se ouve uma história maçante proferida por algum amigo... Avatares que só podem ser desconectados fora do horário comercial, quando chegamos em casa e nos encontramos entre quatro paredes. E é precisamente neste momento que nos sentamos confortavelmente à frente do PC e buscamos nas janelinhas digitais o alívio para essa virtualidade analógica que fica retida do lado de lá da porta. Confuso? Talvez. Mas não é minha culpa se ninguém escreveu ainda um software para simplificar o mundo.