Celular toca. Toca. Toca. Ignoro – o metro e meio que me separam do aparelho não podem ser cobertos pelo meu braço, por mais que eu me esforce em esticá-lo [motivo pelo qual a cerveja se encontra a quarenta centímetros de mim]. “Se fosse importante ligariam em casa”, penso. Telefone de casa toca – saco.
- Alôôô.
- Fabio? Nossa, tá bravo?
- Ah, é você, Ella. Não, não tô bravo. Telefone tava longe, desculpa a demora.
- Ah...
- ...
- ...
- Que houve, Ella? Você só me liga quando precisa de opinião masculina sobre algum cara que está te confundindo. Vai, desembucha.
- Ai, seu grosso, não é verdade. Ligo pra saber de você, porque você é meu amigo e...
- Ella.
- É por causa da necessaire. Tá no armário de novo, mas eu não quero que esteja. Quero colocá-la de volta na minha bolsa.
- Nece.. o que?
- Ai, Fabio, necessaire, necessaire! Aquela bolsinha com base, demaquilante, etc. Kit de primeiro socorros que toda mulher traz na bolsa.
- Ah, a bolsa que vocês guardam na bolsa. Você não tá achando sua necessaire, é isso?
- Não! Ela tá no armário. Esse é o problema.
- Ah, entendi. Vá até o quarto, abra o armário, pegue a necessaire e coloque-a na bolsa de volta. Voilá – problema resolvido. Beijo.
- Vocês homens não entendem nada, mesmo! Tá vendo, é por isso que a necessaire tá no armário.
- Ella... elabore, por favor. Você tá parecendo a doida da Mercedes, não diz coisa com coisa. Ainda não entendi qual é o problema.
- Vocês homens são muito limitados. Acho que vou ligar pra Mercedes de novo.
- Isso, liga. Beijo.
- Ogro! Desculpa incomodar, tá? Você vai ver só quando precisar de conselhos sobre como ser romântico de novo.
- Como eu ia dizendo, prossiga, por favor. [suspiro]
- Então, ele sumiu de vez – lembra, o cara de outro dia?
- Lembro. O cara perfeito, o Yin do seu Yang, a tampa da sua panela. Lembro sim. Que tem ele, terminou com você?
- Não, não terminou. Mas ele não é nada disso aí que você está dizendo, ele é um crápula.
- Mas não sou eu quem disse tudo isso, foi você que ainda outro dia me diss...
- Não fui, ele é um crápula e pronto.
- Mas ele não...
- CRÁPULA!
- Tá. Prossiga.
- Então, ele simplesmente sumiu. Não dá notícias, não me liga, não me manda mais emails, não me chama pra sair.
- Hum.
- É isso, ele me odeia.
- Calma. Você deduziu que ele te odeia porque não tem batido cartão com você. É isso?
- É. Aquele crápula.
- Normal.
- Normal??? Seu crápula!
- CALMA. Ó, vocês mulheres não conseguem pensar com cabeça de homem. Vem cá, esse não era aquele cara enrolado?
- Era, esse mesmo. Mas parece que não tá mais enrolado, tá completamente desenrolado, na verdade. Achei que, por isso, viria correndo atrás de mim.
- Péééé – erro número um.
- Como assim?
- Claro que não viria. Pelo que você está contando, ele tem todos os motivos do mundo para ter dado uma desaparecida. Homem resolve um problema por vez, querida. A versatilidade é coisa do cromossomo X.
- Ai, como vocês são limitados.
- Somos. Não quero te atrapalhar mais com a minha limitação proveniente do cromossomo Y – boa sorte com o problema. Beijo.
- Não, espera!!! Desculpa, vocês não são limitados. Prossiga.
- Hunf.
- Lindo, querido, atencioso, amigo do coração, gost...
- Chega de puxar o saco. Presta atenção.
- Tá.
- Então, ele era enrolado, ok. Isso fazia de você uma aventura. Agora, ele está livre. Isso automaticamente te promove ao posto de “candidata a futura oficial”. E isso muda tudo.
- Ai, que absurdo! Mas ele sabe que eu não espero nada dele além do que a gente tinha antes. Eu quero estar com ele, não quero ser a mãe dos filhos dele.
- Sim, mas você é mulher. Homem, por mais que não assuma, não sabe ficar sozinho. Sempre tem uma namorada/esposa/ficante fixa/amante recorrente/candidata predileta para ocupar o posto de “oficial”. E essa, é tratada de forma diferente das outras.
- Não tô entendendo nada. É por isso que ele me IGNORA?
- Ele não te ignora, não necessariamente. Talvez só esteja medindo as palavras. Te perder, agora, se tornou mais preocupante do que antes.
- Continuo perdida.
- Ai, como vocês são limitadas.
- Grrrr... Tá, um a um.
- Vamos lá, metaforazinha: É um joguinho de campo minado. Antes, você não era a oficial – se ele pisasse numa mina com você, perderia uma vida e continuaria no mesmo ponto do tabuleiro. Agora, você É a oficial, ou a mais próxima disso. Se ele pisar numa mina, é game over – ele volta para o começo do jogo.
- Você tá dizendo que me perder agora seria mais danoso pra ele do que seria antes?
- É exatamente o que eu estou dizendo, Ella.
- E é por isso que ele sumiu? Mas isso me faz querer esquecê-lo, não tem a menor coerência.
- Somos homens. Coerência não se aplica, não sempre. Ele só vai voltar quando terminar de resolver quaisquer problemas que o “desenrolamento” dele possa ter trazido.
- Ai, mas será que ele volta? Você tá me dando esperanças, será que ele ainda me quer, então? Mais do que antes?
- Eu não disse isso.
- Mas...
- Eu disse como é que os homens funcionam. Disse que SE ele ainda gosta de você, é perfeitamente natural que suma nesse momento confuso da vida dele. Mas sempre tem a hipótese de ele ter cansado de você.
- ... ... ...
- Ella?
- Vocês homens deveriam vir com manual de instruções, sabia???
- A gente é fácil de lidar, vocês é que complicam. Pense nos homens como moleques mimados. Se seu filho de oito anos parasse de falar com você, e se fechasse no quarto por dias – porque está entretido com um jogo de videogame muito difícil – o que você faria? Bateria na porta de hora em hora oferencendo carinho e atenção?
- Não, claro que não. Moleque quando se enfia no videogame acha que o mundo vai acabar se ele não se superar naquilo. Não consegue pensar noutra coisa, enquanto não ganha – pode acabar o mundo. Além disso, uma hora ele cansa e volta todo meloso.
- Certo. E o que mais?
- E se ele estivesse me ignorando por birra, minha insistência só faria com que ele me odiasse por não entender que ele quer espaço. E se ele tem algum problema pra resolver, não é com a mãe que ele vai compartilhar, não mesmo. Uma hora ele vai precisar de mim, afinal sou a mãe dele e...
- Exato.
- Exato o que?
- Você acaba de compreender cabeça de homem. É como a cabeça de um moleque de oito anos.
- Mas nós não estamos falando de filhos, estamos falando do...
- Ella... don’t kill the messenger. Reclamações com o fabricante – dirija-se à igreja mais próxima.
- Ai, não é possível que vocês sejam assim tão... tão... infantis! É... entendi... acho... Mas não faz sentido! Como vocês podem enxergar relacionamentos com esse simplismo todo?
- Coisa do cromossomo Y. Era só isso? Tá começando o jogo.
- Era... só... acho...
- Mas eu ainda não entendi uma coisa.
- Você não entendeu??? Imagina eu, então! Tá, fala.
- O que DIABOS a bolsinha tem a ver com isso tudo??
- Ah... deixa pra lá. Coisa de mulher. A Mê entende.
- E depois é a gente que é complicado. Beijo.
- Beijo... brigada, viu? Acho.
- Disponha.
- Viu, tô indo pro bar. Quer ir junt...
- JOGO.
- Tá bom, tá bom. Beijo tchau.
- [Click]
As amigas que eu tenho... não sei o que seria delas sem um intérprete XX – XY. E para isso, eu estou sempre dispon... CARALHO, JUIZ LADRÃO!!
Na próxima vida quero ter o cromossomo Y.
ResponderExcluirEra isso.
Beijão
Edilene
http://devaneiopulsante.blogspot.com
www.papodequinta.com
sabe, entendo esse papo.Ja quase tive um assim com vc e as vezes (ou sempre) vc me surpreende.
ResponderExcluirE esses cromossomos sempre me confundiram Mas vem cá, e a necessaire ?
Esse texto tem um pouco de Veríssimo e muito de comédia romântica água com açúcar, daquelas que a gente assiste no fim de tarde com uma das opções disponíveis entre "namorada/esposa/ficante fixa/amante recorrente/candidata predileta".
ResponderExcluir\o
Eu tenho os dois cromossomos. Sou feliz assim. Você me deve uma prateleira, e eu te devo dinheiro.
ResponderExcluirFabio seu mala!
ResponderExcluirPrimeiro, eu não disse que você podia contar a nossa conversa para alguém.
Segundo, vou odiar você por um tempo.
Mas já que você me expôs eu vou fazer o mesmo com você, pega essa:
Sua explicação não procede!
Não tem como eu ser a próxima "namorada/esposa/ficante fixa/amante recorrente/candidata predileta", simplesmente porque não é possível que alguém que acha que "me perder agora seja mais preocupante do que antes", DEIXE DE FALAR comigo, porque na verdade - ATENÇÃO HOMENS, ISSO SIM É COERENTE! - se eu me sentir abandonada ele me perde JÁ! Não é aceitável que ele não saiba disso. É básico!
E eu ESTOU me sentindo abandonada. Por ele e por um certo amigo traidor que expõe meu terrível drama pessoal no blog dele.
Droga!
P.S. Deby...a necessaire segue no armário, mofando, criando fungos. Devo sair e dar pro primeiro que encontrar?
kkkk acho que minha cabeça é masculina, entendo a lógica deles, entendo o medo de cometer um vacilo, o quão é chato alguém no seu pé quando vc tá entretido com outra coisa, funciono executando uma linha por vez... mas não entendo a história da necessaire.
ResponderExcluirTá confesso que já tive minha fase encalhada desesperada que achava q todo cara me odiava depois de falar comigo por 5 min e por isso já devo ter tido uma conversa semelhante a essa com alguém.
Mas ainda não entendi a da necessaire, fui no caixa preta ver se descobria e nada...
PS: apaguei o comment anterior pq tinha erro feio de digitação e não achei botão de EDIT
haha é o sono eita =p
odeio isso de não ter edit, ter que apagar o comment e aparecer "o comentário foi removido pelo autor"
ResponderExcluirodeio mesmo, onde reporto?
Ai ai ai...
ResponderExcluirDifícil essa Ella viu?
Ela se mete nas encrencas, passa encontrando todos os homens errados e a gente que tem que explicar tim tim por tim tim, porque ela está sempre perdida.
Eu não concordo muito com você não, Fabio. Eu acho que ele não volta, não quer e, pelo que eu ouvi, ele deixou bem claro.
Quer dizer...homem é foda...ele deixou bem claro mas depois reacaiu. Isso não é muito fácil para uma cabecinha corrompida e problemática como a da Ella, mas ela nunca namora um cara de comportamento normal. Neverending story.
Fato...já passa.
Mas eu adorei a conversa anyway. Me lembra de não te ligar em dia de jogo, ta?
Beijos
Luticar,
ResponderExcluirVai la no Caixa que eu te conto.
Ai! Aquela boca não era da Deby.
ResponderExcluirEntão o meu P.S. é pra Sensualle!
Desculpa a confusão.
Ó: A pessoa me liga, me aluga por meia hora, fala de bolsa, pede conselho, eu dou... aí vem aqui, reclama que eu postei a conversa, se dirige aos meus leitores -- e ainda por cima confunde um com o outro? Ella: Meu psiquiatra mandou um beijo. É só.
ResponderExcluirFabio Piva
La la la la la...nem te ligo...
ResponderExcluirQuero vc como amigo pra me ajudar com um tantão de coisas que me atormentam há anos... O máximo.
ResponderExcluirNice and simple...I loved the male insight.
ResponderExcluirBut she probably would never call you again.
We girls don't like to feel like fools, you see?;)
(Nice written btw)
KKKKKKKKKKkk,adorei..
ResponderExcluirpior que é assim mesmo né?
Saudades de ti
hahahahahaha
ResponderExcluirValeu a espera!!!
Se até agora vc ainda não souber o que tem no "nece... o que?" vou ter sérias dificuldades em continuar esta relação de admiração.
ResponderExcluirFavor elucidar-me.
Ana Nazareth
@comTHnofim
Acho que tenho os dois cromossomos.
ResponderExcluirSó, que de um jeito estranho, quando tento entender os moços, o X fala mais alto. Sempre que tenho um dilema sobre o significado do comportamento de vocês machos, encontro a resposta simples e Y em meio segundo. Mas não sei aceitar. E vou aos poucos envolvendo-a em linhas finas até chegar a uma resposta satisfatória e lógica PRA MIM, xizinha em essência.
Sorte minha que os homens fazem maior parcela das minhas amizades e têm me ensinado - sem querer - a descomplicar os fatos. Claro que falta muito.
E até prefiro que seja assim, senão perde a graça.
No momento, vamos só agraceder que existam homens e HOMENS, mulheres e MULHERES.
Porque a diversidade traz o equilíbrio e a evolução, hahahahahahahahahaha.