sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Dicas de conquista para o nerd moderno

Ah – as dificuldades presentes nos rituais de conquista. Chamar a atenção do sexo oposto nunca foi conhecimento empírico para a maioria dos exemplares do sexo masculino da nossa espécie – ainda mais em tempos tão desleais como estes em que vivemos. Mas você faz o tipo intelectual, usa aquele par de óculos charmoso e confia na sua erudição para se fazer interessante. Você tem graduação/mestrado/doutorado em filosofia/engenharia/algo-que-o-valha, fala de ciência sem parecer pedante, se veste de forma elegante-mas-não-fresca, deixa a barba por fazer para dar um toque misterioso-bad-boy ao seu estilo bonitão-com-conteúdo. Certo? Errado. Tudo errado, tudo. É com muito pesar, caro leitor, que eu lhe informo que mulher não gosta de nada disso. Mulher que é mulher gosta de MACHO ALFA. Nerd não é macho alfa. Mas não tema – este breve tutorial lhe servirá bem para iniciá-lo no tortuoso caminho para tornar-se um Uber-XY, uma máquina de produzir testosterona: Ao final deste minicurso, você terá aprendido os conceitos básicos para se tornar um autêntico ás da pegação de nível mundial. 

CALMA – não importa se você é virgem. Siga estas dicas e deixará de sê-lo em breve. Agora deslogue do World of Warcraft e me dê alguns minutos de sua atenção. Estou prestes a salvar a sua vida, pequeno gafanhoto. Comecemos:

CURSO BÁSICO DE CONQUISTA – AULA UM

1)     Então você se vale do seu intelecto como arma de sedução – seu pobre diabo. Em primeiro lugar, esqueça qualquer vislumbre que você possa ter do tipo “intelectualmente erótico” que elas dizem por aí que cultuam –  isso aí é coisa inventada pela Globo para que você não pegue ninguém. Mulher gosta daquilo mesmo que você passou a adolescência toda achando que elas gostavam, e que nada tem a ver com a sua genética meia-boca: Fortões descerebrados cheirando a CC, que não entendem nada de ciência, filosofia, política e outros assuntos completamente irrelevantes para a procriação humana. Assim, se você tem uma bagagem intelectual invejável até aos grandes cérebros da história da humanidade, GUARDE-A PARA VOCÊ. Nunca, em hipótese alguma, tente conquistar uma mulher no papo. Você vai falhar. Elas não dão a mínima para o seu cérebro. Elas só querem seu corpinho malhado, seu queixo quadrado e seus genes de provedor.

2)     Tipo físico. Eu sei, você sempre ouviu dos seus familiares/ex-namoradas/amigas que você gostaria de pegar que o que realmente importa é “o conteúdo”, e não o exterior. RÁ! Balela. Tudo intriga da oposição, teoria de conspiração criada para desviar você do caminho do sucesso, meu querido. Seu tipo físico importa PACAS – e você sabe muito bem qual elas preferem: Fortão, abdomem tanquinho, coxas capazes de estrangular um leão com um mata-leão. Se você está ainda se perguntando “mas e meus diplomas?”, pare a leitura e retorne para o item 1). Caso contrário, você já sabe o que fazer: Tranque sua faculdade/pós-graduação e entre em uma academia. NÃO! NADA DE AERÓBICA! Musculação, pombas. Pelo menos dezesseis horas por dia de pura musculação, a atividade predileta de todo macho que se preze. Yeah.

Corolário de 1 e 2: “Seu trapézio deve ser sempre maior que seu cérebro.”

3)     Está acompanhando, caro leitor? Então vamos falar do seu guarda-roupas. Primeiro, desfaça-se de todas as camisetas xadrez “estilo-PC-Siqueira” que você tem lá. Elas não querem isso aí. Dirija-se a uma loja DE MACHO e adquira uma porção de camisetas específicas para malhação, todas um número menor do que você usaria normalmente. Se você está de fato levando esse curso a sério, já estará matriculado em alguma academia – e não tarda a se tornar um brucutu truculento. Se este for o caso, parabéns: Você já pode – e DEVE – comprar regatas. Use-as com orgulho, o mais coladas possível em seu corpo inchado por exercícios intensos e substâncias químicas ilegais.  

4)     Vocabulário. Como já foi dito aqui, elas não querem conversar com você – para isso, elas têm as amigas e os cabeleireiros. Esqueça palavras com mais de três sílabas e que não são ditas no Big Brother; dessa forma, você pode utilizar seu cérebro para armazenar um número maior de gírias – que você aprenderá na academia com seus colegas de pegação – e onomatopéias vidaloukísticas. Exemplos: “Uhuuu”, “waaaaaah”, “ieeeeeééééaaaaaaa”, são completamente afrodisíacas.

5)     Cheiro. Calvin Klein? Ralph Lauren? SEU BICHA. Jogue fora todos esses perfumes de boiola que você tem aí na sua prateleira. Aliás, jogue fora seu desodorante também – “desodorante” é outro nome para “desmasculizante”. Elas gostam de cheiro de testosterona, meu! Sim, você entendeu bem – suor, transpiração, CC. O raio de influência da sua sensualidade é diretamente proporcional ao alcance do seu cheiro de homem. Você quer uma FÊMEA para arrastar para sua caverna pelos cabelos, não quer? Então EXALTE SUA ANIMALIDADE. Graur.

6)     Programas. Então você acha que já está encaminhado no mundo da pegação e quer testar seus conhecimentos, certo? Ótimo. Você arrumou um encontro com uma “cocota”. Onde levá-la? Inicialmente, deixemos claro onde NÃO levá-la: Cinemas (coisa de cinéfilo bicha), museus (coisa de nerd que não fez este curso), teatros (coisa de viado-gay-viado), cafés (coisa de quem não trepa). Motel direto, pode – ela vai curtir, mesmo porque é isso que ela espera de você. Mas se você preferir pegar leve, tudo bem: Antes do motel, leve sua cocota para a “night”. Certifique-se de escolher uma boite bem badalada, que toque muito “puts-puts” (a sinfonia dos Deuses da Testosterona) e informe-a da sua escolha: “Meu bem, vamos pra night. Waaaah!”. Score: Ela já estará a seus pés antes mesmo que o DJ coloque “I’ve Got A Feeling” para tocar. Congrats.

7)     Locomoção: COMPRE UM CARRO! Esqueça o transporte público, e esqueça mais ainda aquela bicicleta que você usava para ir até a faculdade. Aiás, esqueça QUALQUER COISA QUE REMETA À FACULDADE – com exceção das festas em repúblicas. Estas você continuará/passará a frequentar constantemente – serão seu matadouro por opção.

Bem, você já tem com o que começar, caro gafanhoto. Espero que estas dicas façam por você o mesmo que fizeram pelos antigos alunos deste curso – e que hoje, são exímios ídolos mundiais do mulherio sexualmente ativo. Não, não precisa me agradecer – apenas propague este texto em seu círculo social de amigos que envergonham a nata masculina. Salve outras almas. Abaixo, deixo um pequeno incentivo: O trabalho de conclusão de curso de um dos nossos mais bem-sucedidos ex-alunos, o formando Rodrigo Ferraz. Orgulho desse menino!



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Amizades for dummies


SIM – eu sou anti-social. Até demais, diga-se de passagem. Mas sendo anti-social, prezo demais as minhas pouquíssimas amizades. E por essa razão (e por tantas outras que não convém relatar aqui), me considero em posição favorável para palpitar a respeito de uma das mais pseudo-valorizadas dádivas da sociedade: A amizade. E a amizade, diga-se de passagem, é algo valioso – mas quando mal aplicada, pode ser facilmente confundida com pentelhice. E você não quer ser um pentelho de carteirinha, quer, caro leitor? Imaginei.

Sim, eu disse que a amizade é pseudo-valorizada. Porque todo mundo prega por aí que amigo é coisa pra se guardar, mas a verdade é que ninguém guarda direito – e os poucos que tentam, guardam tão bem que não se lembram depois onde foi que colocaram. Sim, amigo é mesmo coisa para se guardar. Mas debaixo de sete chaves, só o que você não usa frequentemente – porque ninguém quer ficar destrancando uma porção de fechaduras para ter acesso a alguma coisa que faz falta no dia a dia. Assim, melhor mesmo é guardar na estante ou numa gaveta que não pegue muita poeira – algum local protegido, mas que facilite o acesso nos momentos mais importantes, bons ou ruins. Pelo menos é isso que eu procuro fazer com os meus.

Então vamos lá: Desbanquemos algumas falácias bradadas pelos quatro cantos do mundo sobre as amizades. Talvez você já saiba de tudo que eu estou prestes a expor aqui, ou talvez não. De qualquer forma, espero ser capaz de lançar luz sobre alguns pontos que considero fundamentais nestas estranhas relações sociais que se estabelecem entre duas ou mais pessoas, que se juntam para compartilhar tudo o que a vida traz de melhor e pior. Bem, prossigamos.

Em primeiro lugar, amigo não é aquele cara que está sempre lá para você. Ahn? O que? É isso mesmo. Seu amigo querido é, antes de qualquer coisa, uma pessoa – a menos que seja um bicho de pelúcia ou boneca e pano, mas isso foge da normalidade do escopo deste texto. E sendo uma pessoa, seu amigo tem – sim, você advinhou! – uma vida própria. E essa vida é também repleta de problemas, assim como a sua. Portanto, seu amigo pode não estar sempre disponível para te escutar choramingar ou trazer soluções para as situações bizarras nas quais você mesmo se meteu sozinho. E isso não faz dele um mau amigo, não senhor. Só faz dele um ser humano complexo como você mesmo. E se ele for um bom amigo, estará disponível sempre que possível – mas cabe a você compreender que isso não acontecerá sempre que você estalar os dedos. Sim, caro leitor – você também precisa ser um bom amigo para o seu bom amigo, e compreensão e respeito são fundamentais nesta empreitada. Nunca se esqueça disso. Tá anotando? Próxima lição.

Segundo, e não menos importante: Espaço. Gente precisa de espaço; amigo é gente; logo, por transitividade matemática, amigo precisa de espaço. CALMA – eu não vou começar a falar de matemática aqui: Só estou utilizando o vocabulário formal da disciplina-master para expor uma idéia que deveria ser óbvia. Às vezes, e tantas vezes, as pessoas – sejam elas suas amigas ou não – precisam passar um tempo acompanhadas exclusivamente por elas mesmas. Às vezes, a vida nos impõe momentos que só são plenamente aproveitados após uma reflexão auto-ostracista. E isso não significa que, se aquele seu amigo tão eloquente está passando um tempo longe das ferramentas de comunicação tradicionais, ele está te evitando – de maneira nenhuma. Talvez ele só esteja pensando na vida, revendo conceitos. E talvez ele precise fazer isso sozinho, antes de pedir seu auxílio para debater sobre as conclusões a que chegou consigo mesmo. Afastamento egoísta? Talvez. Mas o ser humano precisa ser egoísta, vez ou outra. Você também precisa ser – e é – egoísta vez ou outra. Respeite esta realidade imutável sobre a espécie e você viverá mais feliz e menos solitário – por mais contraditório que isso possa parecer.

Está acompanhando, querido leitor? Ah, que ótimo. Então, passemos à lição número três – que é apenas uma conjunção das anteriores: Amigos vivem. E viver, como você bem sabe, implica em cometer erros. E errar, como você aprendeu na escolinha, implica muitas vezes em mudar e machucar os outros. Mudar para pior? Nem sempre. Machucar os outros de propósito? Tampouco. O ponto é que viver é isso aí – pisar no calo de alguns enquanto tentamos evoluir e aprender. Esperar que seu amigo seja hoje a mesma pessoa que ele era há dez anos, quando você o conheceu, é surreal, frustrante e... bem, idiota. As pessoas mudam todos os dias, como consequência das experiências que elas vivem ao frequentarem esse mundão de meu Deus. E lembra? Seus amigos são pessoas.

Mas tudo bem, não se aflija – muitos de nós são providos de uma necessidade incontrolável de questionar, e compreender as razões por trás de cada passinho/mudança que seus amigos protagonizam na vida. Particularmente, não vejo nisso nenhum problema – basta que você procure conhecer a situação como um todo antes de formar opinião a respeito das atitudes dos seus fiéis escudeiros. Muitas vezes, você pode presenciar uma situação que envolve dois ou mais dos seus super-master-blaster-melhores amigos. E em geral, tal situação não lhe dirá respeito algum – mas tavez você seja um amigo tão bom, mas tão bom, que PRECISARÁ compreender o evento da melhor forma possível para auxiliar seus pares. Se você se enquadra neste perfil, seja sensato: Procure ser imparcial. Palpite, mas só quando lhe for solicitado. Forme opinião, mas apenas quando conhecer todos os fatos relevantes e versões sobre o ocorrido que for capaz de assimilar. Caso contrário, você não estará sendo um bom amigo – só um palpiteiro irritante que gosta de ver o circo pegar fogo. E esses, meu caro, ninguém gosta de ter por perto.

Por fim, mas não menos importante: Amigos de verdade não se afastam indefinidamente. Se você perdeu contato há tempos com alguém que lhe faz falta, procure-o. Talvez ele também sinta saudades de você. Talvez ele não tenha te esquecido, nem tenha deixado de apreciar sua companhia. Talvez ele esteja passando por um daqueles momentos auto-ostracistas explanados acima, ou talvez ele esteja precisando de um ombro amigo mas não saiba onde procurar. E é aí que você tem, caro leitor, a chance de mostrar como você pode ser um bom amigo para o seu bom amigo: Mostre-se disponível, mas sem invadir o espaço/privacidade do seu camarada. Se ele estiver precisando de você, estenda a mão. Se ele preferir ficar quietinho por mais algum tempo, respeite – ao invés de sair por aí bradando para todo mundo que fulano mudou e não se lembra mais dos amigos. Isso seria no mínimo uma atitude babaca desleal. E procure se lembrar de que você também já teve momentos em que precisou se afastar do mundo para resolver algum problema.

Guardem seus cadernos, larguem suas lapiseiras – por hoje é só. Espero ter sido capaz de esclarecer alguns pontos fundamentais para quem gosta de ser especial para alguém – seja esse alguém um bicho anti-social como eu, seja um alguém mais carismático. Tenho procurado aplicar estes conceitos no meu dia a dia, e não posso reclamar dos resultados. Não, eu não tenho tantos amigos assim. Mas dos que tenho não posso reclamar – e isso tem me sido mais que o suficiente. 


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E aí, Jesus!


E aí, Jesus!” – já me acostumei a olhar para trás com um sorriso amarelo. Aparentemente, os cabelos longos e castanhos, o cavanhaque, a pele branca, os olhos azuis e as feições ligeiramente européias fazem de mim uma espécie de sósia de um sujeito nascido na Judeia – terra que ficava mais ou menos onde se localiza hoje a faixa de Gaza. Mas eu não pretendo gastar linhas e mais linhas discorrendo sobre o quão absurda essa tese é sob o ponto de vista geográfico, genético e/ou antropológico – não. Para isso você pode contar com a programação especial de natal do Discovery/History Channel, ou até algum especial sobre a vida e obra do messias no National Geographic. E convenhamos – que o nosso querido JC não era nenhum branquelo azedo já é algo relativamente bem aceito há cerca de dez anos, e por boa parte da comunidade cristã [por mais incrível que isso possa parecer].

Não, pouco me interessa se o Filho do Homem tinha cabelo de bombril, nariz de batatinha e beição. E também não me ofendo ou me importo – ainda que já tenha abandonado há tempos minhas raízes católicas – em ser comparado com Sua Divindade; nem me irrito que isso aconteça todo santo ano. O que me incomoda de fato nessa historinha de “olha lá, é o Messias no McDonalds!” é que ela acontece sempre, invariavelmente e sem falha todo ano... exclusivamente em Dezembro.

Pausa para uma observação sobre este autor: Eu uso cavanhaque e cabelos longos há cerca e oito anos. Nesse período, nunca cortei as madeixas – e raramente faço a barba completamente. Os demais atributos físicos que hipoteticamente me fariam lembrar um hipotético filho de um hipotético Deus estão lá há... bem, desde que eu nasci. Logo, só posso concluir que, se eu me pareço de fato com o mártir cabeludo, o faço por nada menos que trezentos e sessenta e cinco dias por ano. Certo? Certo. Mas os fiéis devotos de Nosso Senhor só notam em Dezembro, quando é o hipotético aniversário do hipotético cabeludo.

Mas qual é o meu ponto, meu hipotético Deus do céu? Simples: Amanhã é natal – seja lá o que  isso represente para você. Mas particularmente para uma maioria da população brasileira que se diz cristã, é simplesmente uma das datas comemorativas mais importantes do calendário religioso. É quando se comemora o aniversário daquele que veio à Terra para render os pecados da Humanidade – o que, na minha humilde opinião de hipotético sósia, parece ser algo um bocado trabalhoso e digno de admiração, supondo que tenha de fato acontecido assim. E se para você o natal celebra a memória desse cara que protagonizou tudo isso aí... bem, você deveria se lembrar dele mais vezes por ano. Pelo menos eu acho.

Assim, aproveito esse tempinho de vocês para desejar um feliz natal a todos os fiéis (e infiéis também) leitores do Paciência Negativa. E seja lá o que for que a data significa para você, seja lá qual for o motivo da comemoração, aproveite -- de preferência acompanhado de quem você ama. No entanto, o que quer que você comemore nessa época, não deixe para celebrar apenas em Dezembro -- leve para o ano todo. Solidariedade, benevolência, amor ao próximo, reunir a família, lembrar de “deus” e até uma boa bebedeira com os amigos são hábitos aconselháveis também nos demais dias do calendário. Fica a dica.


domingo, 19 de dezembro de 2010

Amigo secreto

Ah, chegou o final de ano – aquela época mágica, em que os corações são tocados pelo espírito natalino e todo mundo resolve fingir que é bonzinho. Para a surpresa de alguns, eu sou ávido apreciador das festas decembrinas. Mesmo aquela que comemora o nascimento daquele pobre senhor, que foi crucificado para absolver os pecados da Humanidade somente para que esta pudesse fazer o contadorzinho da estupidez girar incessantemente pelos mais de dois mil anos subseqüentes ao seu martírio [eu, no lugar dele, estaria puto da vida conosco]. No entanto, não contentes em transformar o aniversário do moço cabeludo em uma celebração centrada em um gordinho que veste vermelho, nossa sociedade demonstrou mais uma vez uma inigualável capacidade para estabelecer hábitos culturais de caráter duvidoso: Criamos algo tão cruel e injustificável quanto os rituais públicos de crucificação de criminosos, tão selvagem quanto a perseguição romana aos cristãos na aurora da história moderna. Criamos os amigos secretos.

 E você trabalha/estuda/tem amigos/respira, é quase certo que você tenha sido compelido – ao menos em algum momento da sua existência – a participar de um desses alegres eventos em prol da celebração da amizade. Em resumo, a coisa funciona mais ou menos assim: Algum cretino serelepe sugere a realização da festinha, normalmente na frente de algum chefe que apóia a idéia, e aparece com uma sacola de supermercado cheia de papeizinhos – cada um contendo o nome de um infeliz participante da brincadeira. Os nomeados são então compelidos a retirar, aleatoriamente, um dos papéis da caixa de Pandora sacola – o nome retirado é o seu querido amigo secreto, digno de um presente que você comprará com todo amor e carinho. Nesse ponto a regra não é clara – em algumas situações, alguém estipula um valor máximo para as compras, ou mesmo cria uma lista onde cada coitado define o que gostaria de ganhar. Tudo muito simples, divertido e socialmente adequado.

Ou não.

Pra começo de conversa, o sorteio acaba sendo tudo, menos aleatório. Isso porque nosso querido Papai do Céu, portador de um cinismo crônico e de um humor negro dignos de Sérgio Mallandro, adora interferir nesse tipo de evento – e você fatalmente retirará da sacolinha o nome da única pessoa do escritório que você não suporta/não conhece/quer-ver-morta-debaixo-de-um-caminhão-de-mudanças. E não contentes em te obrigar a presentear o mentecapto, os organizadores do jogo ainda exigem que você descreva aquela pessoa para que os demais participantes adivinhem quem é. Já viu o problema? “Meu amigo secreto é um babaca almofadinha pedante, que veste sempre a mesma camisa comprada na década de noventa e cheira a suor. Ah, ele também tem um mau hálito típico. Adivinharam?” à Não pega bem.

Mas tudo bem – vamos supor que você dê a sorte de retirar alguém que lhe seja completamente indiferente ou fácil de descrever [não, você NUNCA vai tirar alguém de quem gosta]. Ainda assim, você precisará comprar um mimo para o amigão. E nessa jornada, toda a sorte de intempéries pode se abater sobre você: Primeiro, lembre-se de que é Dezembro. Todos os shopping centers/lojas estarão transbordando de gente – alguns antecipando as compras natalinas, outros preocupados com seus próprios Amigos Secretos. Segundo, sempre tem um idiota que pede um CD/DVD/Livro fora de edição que você não encontra em LUGAR NENHUM DESSE MUNDÃO DE MEU DEUS. E... você adivinhou: É precisamente esse idiota que você sempre tira. Tudo aleatório.

Mas mesmo os Amigos Secretos tem seu o lado bom, né? Afinal, você tem a chance de receber um presentinho, e isso sempre é bacana. Só que não é. Porque na remota posibilidade de você não ter sorteado o imbecil de quem ninguém gosta como seu amigo secreto, tenha a certeza de que foi justamente ele quem te sorteou. E mesmo que exista uma lista de desejos, onde todo mundo deixa CLARO o que gostaria de ganhar, o sujeito vai dar um jeito de encontrar algo que seja “muito mais a sua cara” do que aquilo que você pediu. E aí, meu caro, você está perdido: Pouco importa se a criatividade do energúmeno foi utilizada de coração ou para tirar uma com a sua cara – o que quer que você receba será algo completamente inútil, medonho e terá sido comprado em uma loja que não aceita devoluções. E ao receber o elefante branco, você será compelido por palminhas de todos os presentes a desembrulhar o troço em público – e será forçado a fingir que amou a surpresa e está mais feliz do que no dia do nascimento do seu primogênito.

Criatura anti-social que sou, eu não participo mais de Amigos Secretos há tempos – e isso de alguma forma me é motivo de orgulho. Eu adoraria andar por aí com um botom no peito com os dizeres “Meu nome é Fabio Piva e eu não participo de Amigos Secretos há dez anos”, ou mesmo “Cada vez que alguém coloca meu nome numa sacolinha, um Panda morre de apendicite” – mas nunca encontrei um desses para comprar. Hum... tá aí: Na próxima vez em que alguém me voluntariar-contra-a-minha-vontade a participar de uma festinha dessas, já sei o que pedir. 


sábado, 11 de dezembro de 2010

Querido diário

[Muita gente me pergunta como eu consigo escrever para o Paciência Negativa e ainda trabalhar na minha tese de doutorado sem enlouquecer. Como ando ocupado com a pesquisa, resolvi postar uma entrada do meu diário de projeto – para demonstrar que, com um pouco de organização e força de vontade, é fácil preservar a sanidade mental e manter tudo andando. Que isso sirva de exemplo e encorajamento para os futuros mestres/doutores por aí.]

Querido diário,

Hoje será um dia atípico. A insônia das últimas noites não deu trégua – novamente dormi meros quarenta minutos de sono leve. Já os pesadelos – esses sim, não faltaram. Foi como das últimas vezes: Um elevador que subia, subia, subia e não parava nunca. Enquanto subia, ele diminuía de tamanho – e as paredes pareciam verter sangue ou algum tipo de fluído viscoso. Preto, no entanto – não era vermelho. Novamente, acordei assustado – o sentimento era o de que eu tinha protagonizado algo condenável e estava sendo consumido pela culpa. Provavelmente deve ser mera reação à pressão – o prazo para a entrega do artigo se aproxima e a falta de descanso tem me atrapalhadAll work and no play makes Fabio a dull boy All work and no play makes Fabio a dull boy All work and no play makes Fabio a dull boy All work and no play makes Fabio a dull boy All work and no play makes Fabio a dull boy All work and no play makes Fabio a dull boy All work and no play makes Fabio a dull boy All work and no play makes Fabio a dull boy.

De qualquer forma, meu psiquiatra diz que os sonhos são apenas isso – sonhos. A recorrência dos pesadelos com cadáveres dilacerados dos meus colegas e entes queridos também não são nada demais – apenas uma metáfWhat’s your favourite scary movie? e problemas cotidianos que eu preciso solucionar. Enquanto minha sensatez permanecer inabalada, não há motivo para alarde, reforça o doutor.

O trabalho flui bem – a prova do último Teorema de Fermat elucida claramente a questão sobre a distribuição de números primos entre I am not economically viable dois à trigésima oitava potência. Um problema a menos.

Aliás, isso me lembra que preciso visitar a sala do “chefe”. Meus últimos escritos provocaram uma reação peculiar no meu orientador: Ele insiste em se reunir comigo o mais rápido possível – e parecia preocupado, o pobre. Suponho que, novamente, não tenha compreendido minha expansão de Fourier que viabiliza a aplicação de funções de hash Chameleon sobre o protocolo. Pensando bem, não compreendo como ele podHERE’S JOHNNY! tão longe na hierarquia acadêmica, enquanto eu – muito mais preparado – não passo de um mero aluno de doutorado. A vida não é mesmo justa – alguém deveria acertar os ponteiros do relógio do mundo, eliminando o peso morto.

O cronograma para hoje é o seguinte: Primeiro, preciso preparar slides “a lá mobral” para explicar a expansão da transformada para o “chefe” – aquele inepto. Acredito que consiga concluir isso no meu horário de almoço. A seguir, preciso finalizar a revisão da prova de Wiles para incluí-la na tese. Esmiuçar os detalhes da magnífica produção matemática do americano é fundamental paraREDRUM REDRUM problema da parada. Mas antes disso, preciso levar de volta o machado à loja de ferragens – ainda não entendi porque a faxineira teria comprado tal ferramenta. E se não foi ela, quem teria sido? Eu me lembraria de alguma visita ter adentrado meu lar portando uma arma branca tão proeminente. Além disso, eu não tenho lareira em casa – todo mundo sabe. Estranho.

Por fim, não posso me atrasar para a reunião com os colegas de laboratório às quinze horas. O “chefe” fez questão de divulgar que eu tinha algumas notas a acrescentar à prova de Wiles, e todos parecem ansiosos pela minha apresentação. Eu estou bastante tranquilo – os resultados são sólidos e já se foi o tempo em que eu sofria de nervosMISERY CHASTAIN CANNOT BE DEAD! certo de que tudo correrá bem.

Ah sim – preciso também me lembrar de postar alguma coisa no blog. Minhas últimas descobertas têm me tomado todo o meu tempo, de forma que não consegui escrever nada próprio para hoje. Bem, talvez eu poste esta entrada do meu diário, que me parece relativSeven-six-two millimeter. Full metal jacket >:-D. É uma boa forma de demonstrar aos meus leitores que é sim possível executar um projeto de doutorado e, ao mesmo tempo, manter a sanidade e uma vida social saudável.

Bem, preciso preparar o material para a apresentação. Apontador laser, pincel atômico, noteboI'm Norma Bates!, machado, lonas plásticas… será que esqueci algo? Acho que isso é tudo.

10/12/2010


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Shopping centers

Se você acompanha as minhas postagens no Paciência Negativa, já deve ter percebido que sofro de um desapreço quase crônico pela raça humana. Enquanto espécie, somos mesquinhos, demagógicos, incoerentes, egoístas – e ainda assim acreditamos estar no topo da escala evolutiva, por sermos assim tão diferentes dos demais bichos. Por outro lado, há indivíduos que nos fazem ter orgulho – mesmo que um orgulho corriqueiro – da nossa raça. No final das contas, não se pode generalizar para nenhum dos dois lados: No mundo há muita gente admirável, com também há muita gente que nos desperta a mais legítima das auto-vergonhas alheias.

No entanto, uma coisa é consenso: Quanto mais gente aglomerada em um espaço restrito, mais ofuscados os exemplares dignos da espécie se tornam. As multidões têm a estranha capacidade de fazer com que até o mais louvável dos seres se porte da maneira mais irritante possível. E enquanto a maioria dos aglomerados reúne elementos de uma mesma tribo ou partidários de algum interesse comum qualquer, existem ambientes em que encontramos absolutamente todo tipo de gente – verdadeiras placas de petri sociais: Os shopping centers. E se podemos dizer que existe alguma coisa no mundo que se aproxima da pior definição de inferno de que se tem notícia, é seguro dizer que são os shopping centers nos finais de semana.


Qualquer shopping center que se preze conta com o kit completo para irritar até mesmo o mais devoto monge tibetano: Em primeiro lugar, é o palco onde os adolescentes ensaiam suas pecinhas de conquista. Por alguma razão, é extremamente normal encontrar matilhas de jovens do mesmo sexo à procura de uma presa fácil – ainda que não se tenha notícia de alguma caçada do gênero que tenha trazido qualquer sucesso aos protagonistas. Mas isso pouco importa: Sábado após sábado a molecada se dirige em peso, em busca de romance, aos centros comerciais – que de românticos não têm absolutamente nada. 


Ah, mas a presença massiva de adolescentes não é motivo suficiente para evitar um ambiente, caro autor”, você diz. Discordo. Mas seguindo essa linha de pensamento, devemos nos lembrar que os antagonistas dos adolescentes na linha da vida – os velhinhos – também encontram-se muito bem representados nos shopping centers. E velhinhos são fofos, velhinhos são legais, velhinhos são bonitinhos. Mas velhinhos em shopping centers são extremamente irritantes. Para começo de conversa, há os quase noventa porcento das vagas de estacionamento dedicadas exclusivamente a eles [sei que a porcentagem não chega a tanto, mas certamente me parece – cada vez que eu tenho que procurar uma vaga para colocar o carro]. Mas os velhinhos, que consideram tais vagas humilhantes, não as utilizam... bem, nunca. Pela mesma razão, evitam ao máximo o caixa eletrônico preferencial – preferem pagar todas as contas no único caixa que tem saque, e no único dia da semana em que a população do shopping center se aproxima de quatrocentas e trinta e nove pessoas por metro quadrado. E você, que só queria tirar dois reais para comprar uma casquinha do McDonnald’s, deve se contentar em contemplar aquele caixa preferencial vazio enquanto a fila atrás de você aumenta. 

Velhinhos e adolescentes, adolescentes e velhinhos – não dá para ficar pior do que isso. Mas dá. Porque os shopping centers, além de uma Torre de Babel de aniversários, é também o ponto predileto dos casaizinhos cuti-cuti. Afinal, que outro lugar seria melhor para estes verdadeiros praticantes do amor eterno demonstrarem ao mundo seu amor épico, do que um ambiente repleto de expectadores? E aí você está lá, esperando a sua vez na fila quilométrica de algum restaurante da praça de alimentação – pacientemente, sempre pacientemente. E quando está quase definhando de fome, a um passo de ser atendido, o casalzinho que se encontra imediatamente à sua frente na fila se atraca. Chega a vez deles, e eles não notam. A moça do caixa chama, re-chama, re-re-chama... mas aquele amor é grande demais para que eles ouçam. Mas a sua fome é maior – quem nunca cometeu um duplo-homicídio mental em uma hora dessas, que atire a primeira pedra. 


Adolescentes, velhinhos, casaizinhos. E passeadores – não podemos falar de shopping centers sem mencionar os passeadores. Sim, caro leitor, existem pessoas que se dirigem a um shopping center lotado no fim de semana com o intuito único de passear. E estes levam a família, é claro. E enquanto você traça na sua cabeça a menor rota possível para chegar do ponto A ao ponto B, irritado por precisar estar ali por alguma razão inadiável, os passeadores treinam para o casamento e param em vitrines – sem dar luz de freio. Você os tenta evitar, desvia, muda a rota on-the-fly buscando os corredores que tem menos vitrines – mas nada parece adiantar. Porque os passeadores detestam outros passeadores – acham que eles estão ali unicamente para atrapalhar aquela tarde tão gostosa em família. E te seguem, mesmo nos confins mais ermos do shopping. É nesses momentos que uma insuportável sensação de claustrofobia me acomete e eu me lembro com carinho daquele vídeo-clipe de Bitter Sweet Symphony – e tenho vontade de sair atropelando todo mundo. 


Odeio shopping centers, e os odeio ainda mais nos finais de semana. Você certamente já ouviu alguma comparação dos shopping centers a formigueiros. Pois eu discordo dessa analogia, e esclareço o porquê: Nos formigueiros, embora a população por metro quadrado seja relativamente a mesma que nos centros de compra, existe certa organização. Uma organização aparentemente caótica, é verdade – mas ainda assim criteriosa. As formiguinhas estão ali porque suas vidas dependem daquilo, e todas trabalham para um objetivo em comum. Bem diferente dos shopping centers, onde encontramos um buzilhão de pessoas reunidas pelos mais "inrelacionáveis" motivos. E o fato de este texto ter sido idealizado num sábado, e em um shopping center lotado, me faz pensar por que diabos a gente ainda se submete a esse tipo de coisa. E aí me lembro que, sendo integrante da Humanidade, não tenho melhor razão para justificar minha própria insensatez. 




[Pauta sugerida por Karina Mochetti (@karina_mochetti)]

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Fofo é o escambau!

O telefone toca:

– Oi, Ju! E aí, como foi ontem com o Leo?
– Ai, amiga... foi super demais! A gente saiu pra jantar, depois fomos a uma mostra de cinema em sampa. De lá, seguimos para um café e ficamos lá até de manhãzinha. Adorei!
– Juraaaaaa? E aí, curtiu o Leo? Acho que vocês tem tudo a ver!
– Nossa, ele é um fofo!

[Trilha sonora dramática]

Reflitamos: Juliana passou horas observando o armário, escolhendo o modelito, se maquiando, imaginando como seria seu primeiro encontro com Leo. O moço chegou no horário, tocou a campainha, ela atendeu a porta – e os olhares se cruzaram pela primeira vez. Jantaram, se divertiram, Leo fez Juliana rir – “que cara engraçado!” – descobriram interesses em comum... Amanheceram juntos em um café. E após uma noite na companhia um do outro, após horas a fio de mútua avaliação e observações cuidadosas, tudo o que Juliana tem a dizer à sua fiel escudeira a respeito de Leo é que ele é “fofo”. Conclusão? Isso não pode ser bom. Ao menos para Leo, já que Juliana acaba de encontrar seu próprio representante heterossexual de “amigo gay”.

Pausa para o protesto das leitoras. Pronto? Prossigamos.

A verdade é que não há absolutamente nada de errado com o adjetivo “fofo”. Veja os ursinhos de pelúcia, por exemplo – são fofos. Todos os que não são mortos por dentro gostam de ursinhos de pelúcia. O mesmo raciocínio se aplica àquele seu primo/sobrinho de oito anos, gordinho, espivetado e que usa um óculos fundo-de-garrafa: Ele também é fofíssimo. E provavelmente não há nada mais fofo no mundo conhecido do que um filhote de quase qualquer bicho. Ursos de pelúcia, sobrinhos gordinhos e filhotes – todos visões materializadas da fofura. O problema é que ninguém, em sã consciência, teria tesão em nenhuma dessas simpáticas criaturas [ou ao menos prefiro imaginar que não].

Quando um homem sai com uma moça – pasmem! – ele está repleto de segundas intenções. Ele pode ser um gentleman, pode ser tímido, pode ser virgem – mas invariavelmente, e por uma questão absolutamente instintiva, o que cada uma de nossas moleculazinhas de testosterona espera é que despertemos interesse sexual em nossa contraparte. E eu não estou dizendo que todo homem que sai com você, inocente rapariga, quer te comer de cara [mas também não estou dizendo que não quer]. Só estou esclarecendo que todos nós, absolutamente todos, sentimos uma inevitável invejinha daquele limpador de piscina latino, moreno e alto, que sempre aparece sem camisa exibindo seu abdomem definido nas telas de cinema – e que nenhuma de vocês nunca chama de "fofo". E tal invejinha nos acomete toda vez que as moças que nos acompanham suspiram por ele, ou quando notamos seus olhinhos brilharem pelo mentecapto. Por outro lado, quando um bebê fofinho aparece no comercial da Johnson & Johnson ou quando a leoa do zoológico municipal dá cria, nós não sentimos inveja alguma; nem mesmo quando vocês se derretem todas, tombam suas cabecinhas para o lado e pronunciam a onomatopéia mais classicamente feminina do mundo: “Óóóóóóóun...!”. Estão acompanhando? Limpador de piscina – “me-taca-na-parede-e-me-chama-de-lagartixa” – inveja. Bebê Johnson & Johnson – “ti-fofo!” – não inveja. É simples.

Particularmente, não conheço nenhum homem que ache digno ser considerado fofo por qualquer mulher. As mães/avós/tias são as exceções óbvias – mas apenas porque elas nos conheceram quando nossos pés cabiam na palma de suas mãos, e sempre nos verão imutavelmente como seres pequerruchos. O que eu estou tentando dizer, cara leitora, é algo que considero de fundamental importância  para a continuação da espécie: Toda vez que uma mulher sexualmente selecionável diz que um homem é fofo, uma centena de espermatozoides cometem suicídio coletivo.

E aí vêm os contra argumentos na seguinte linha: “Protesto, caro autor, protesto! Porcos tem um desempenho sexual invejável, experimentam orgasmos de meia hora e são fofos. Coelhos passam metade da vida fazendo sexo e são fofos. Você não sabe de nada!”. Tudo isso aí é verdade, mas eu rebato: Você não transa com porcos ou coelhos, transa? Sai pra jantar, fica esperando uma ligação no dia seguinte, suspira sozinha pelos cantos enquanto pensa neles... suspira? Não. Assim, me recuso a aceitar argumentos dessa espécie. A menos, é claro, que venham de porquinhas ou coelhas. Aliás, me arrisco a dizer que o desempenho dos porcos e coelhos só é tão invejável porque as porcas e coelhas não acham seus parceiros fofos. Tenho quase certeza.

Por isso, gostaria de iniciar aqui um movimento masculino anti-fofura. Já precisamos conviver com a idéia que vocês fazem de que “engraçado/bacana/legal/joinha/simpático” são elogios dignos e másculos – não são. “Atraente/charmoso/envolvente/cativante/inteligente/brilhante/gostoso/delícia” – estes são alguns dos adjetivos que provocam sentimento de dever cumprido em cada um dos nossos cromossomos Y. Mas se você PRECISA de um namorado fofo, não pode viver sem um, não tem problema – desde que você não o defina assim na frente dele ou para suas amigas. Melhor: Disfarce a alcunha em algo mais selvagem, sei lá... diga que é um troglo-fofo ou um fofo-sapiens. Talvez assim a gente se distraia com nossa própria imagem – ainda que falsa – de bárbaro com tacape e esqueçamos o sentimento de castração típico que acompanha cada “seu fofo!” que recebemos de vocês. Fica a dica.


[Pauta sugerida por Rozeli Mesquita (@RozeliMesquit)]