sexta-feira, 1 de abril de 2011

Relacionamentos

Eu tenho algo duro a compartilhar. É um fato desses tantos imutáveis, que todo mundo odeia, dos quais todos reclamamos e sobre os quais todos queremos evitar de pensar a respeito – mas ele continua lá, como se fosse uma das principais engrenagens que movem o mundo. E você, caro leitor, faz parte do mundo – vale lembrar. Preparado? Tá, eu espero. Pronto? Então vamos lá.

Relacionamentos, muitas vezes, não. Dão. Certo.

Calma.

Respire fundo, e tente não perde a fé na humanidade, no amor e nas coisas belas por causa do que eu acabo de revelar – a coisa é assim mesmo, sempre foi e sempre será. Não é niilismo – não sou eu quem faz as regras. Pode parecer revoltante a princípio, uma espécie de piadinha de mau-gosto de alguma criaturinha divina – eu sei, eu sei. Mas a questão é que ninguém nunca ouviu falar de nenhuma morte natural que tenha ocorrido graças ao término de um casamento/namoro/união estável, por mais linda, exemplar e parecida com os contos de fadas da Disney que esta fosse até o fatídico acontecimento.

A verdade científica por trás dos relacionamentos é que eles são projetados, quase todos, para não darem certo. Triste? Talvez. Mas a regra é clara, e existe há mais tempo do que o conceito de “amor eterno”: Da mesma forma que um bicho precisa morrer para que outro sobreviva, um grande amor precisa ir para o saco para que outro(s) tenha(m) a chance de existir. E mesmo esse grande amor que agora dá seus últimos suspiros, um dia, surgiu do vácuo de um outro grande amor que deixava de ser. Está acompanhando, leitor? Não é niilismo. É realidade.

O plano da Mãe Natureza é que você passe boa parte da sua curta vidinha tentando encontrar a sua cara-metade – e falhando miseravelmente. E aí, em um belo e ensolarado dia em que os passarinhos cantam e as flores desabrocham, você acha que encontrou AQUELA pessoa e tenta investir naquilo. E depois de um tempo, aquilo acaba. E você sobrevive, aprende com os seus erros (e os do outro) e se torna uma pessoa melhor – ou ao menos mais experiente – que só faz chorar pelos cantos de forma imprestável por umas horas/dias/meses/anos. E aí você supera mais uma desilusão amorosa e retorna ao início deste parágrafo, em um ciclo quase infinito. Sim, quase infinito – porque a Natureza sabe que, mesmo você dizendo que nunca mais vai ser feliz, que nunca mais quer se envolver daquele jeito com ninguém, e que nada daquilo é justo e tampouco aceitável, você vai tentar de novo. E sabe também que tudo o que você diz no período de sofrimento e luto é a mais pura balela, coisa de criança mimada que não sabe perder – que é precisamente o que todos somos aos olhos de Mamãe Terra. É só questão de tempo até que você pare de resmungar e retorne ao “modo de procura” – não importa o quanto você choramingue e diga que quer morrer.

Reflitamos: Se um indivíduo monogâmico tradicional tiver N relacionamentos durante a vida, pelo menos N-1 estarão fadados a fracassar em algum momento antes que ele bata as botas. E em boa parte deles, em algum momento, os envolvidos pensarão que aquele, aquele SIM, é para sempre. Mas estatisticamente, a chance de se estar errado com uma afirmação dessas é colossal. “Mas não custa ter esperança, caro autor!”, você protesta. Não, de fato não custa – e é até aconselhável que você não embarque em uma canoa a dois achando que ela vai afundar antes mesmo de partir. Mas acredito que também não custe muito ter em mente que o mundo não é apenas um pano de fundo para as suas vontades, e lembrar que tentativa e erro são a base do desenvolvimento de qualquer espécie. E assim, chorar o leite derramado quando o caldo entorna não é, a meu ver, nada mais do que perda de tempo. Seu amor foi embora? Bateu a porta atrás de si e deixou apenas um fio de cabelo em seu paletó? Escreva uma canção sertaneja, recomponha-se e bola pra frente. Porque é assim que as coisas são, desde que o mundo é mundo – e não é você quem vai conseguir mudar o que se instaurou em anos de evolução.

Acredito no amor verdadeiro – e naquela coisa toda do “que seja eterno enquanto dure” que todo mundo gosta de citar por aí. No entanto, acho importante enfatizar o “enquanto dure”. Não é porque fulano não quis mais ficar com você/voltar para você, que ele nunca te amou. Tampouco isso faz dele um louco/cretino/babaca/mentirososalafrárioidiotacachorro. Talvez, e só talvez, ele apenas esteja seguindo em frente após mais uma dessas tantas tentativas falhas, e tentando ser feliz – coisa que você, se já não estiver fazendo também, ainda fará. E também acredito que quanto menos tempo passamos “odiando” nossa ex-última-bolacha-do-pacote porque ele não quis continuar no nosso pacote, mais tempo temos para dedicar à nossa própria busca pela felicidade. Que é cheia de decepções e mágoas – é verdade. Mas são justamente as decepções e mágoas que constroem o nosso caráter.

Esse foi o contrato que todos nós assinamos com o mundo quando resolvemos passear por aqui. Aceitemos as entrelinhas. 

 

6 comentários:

  1. Olha... é exatamente por isso que eu estou passando. (mas eu to do lado "que foi embora").

    Beijos querido! Gostei de te ler!
    =)

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  2. Eu li!
    Só posso dizer que estou tentando.
    Beijos, Edi

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  3. A gente só teoriza sobre o amor, quando não estamos amando, pois a via contrária é entorpecente. E, acredito eu, negócio de amor eterno, cara metade é invenção holywoodiana mesmo.

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  4. É...parece que eu conheço de perto essa historia. Alias, todos nós conhecemos e vivemos essa historia (nossa ou de nossos conhecidos). É a pura verdade, porque acredito eu, "rei morto, rei posto" doendo ou não.Indo embora ou sendo deixado para trás. E a teoria é linda, a realidade é dura e crua. Mas eu acredito no amor eterno "enquanto dure" e aproveito o máximo. Parabéns Fabio. Mais uma vez voce arrasa no texto. beijo

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  5. Que texto legal!
    Sem duvida a vida é cheia de idas e vindas e reviravoltas... bom pra pensar e aprender com os erros.

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  6. juro que penso muito sobre isso o tempo inteiro, e me imagino em uma vida sem ele, depois de ter passado tanto tempo com ele sempre por perto. Ás vezes, acredito que não conseguirei suportar a dor de um dia perdê-lo, sendo por fim de relação ou morte, mas a vida é assim e temos que encarar, seja em uma fase simples ou conturbada. Graças a Deus estou na fase "simples", mas a pouco, estava na fase "por um fio". Finalmente consegui conquistar o amor dele, digo AMOR MESMO, pois antes, era tudo apenas uma paixão.. mas a convivência nos ensinou a amar de verdade um ao outro, e HJ, estamos bem, felizes e sempre cúmplices. =***

    beijão meu amigo, nossas conversas ajudaram muito nas minhas decisões. Te adoro. Estela Haddad =*

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