sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sem perdão para os chatos

Gostaria de começar este texto mandando cerca de metade da população mundial para um lugar bem feio, mas isso seria muito indelicado de minha parte. Por isso, deixarei que o xingamento permeie sutilmente por estas linhas e torcerei para que as pessoas certas vistam a carapuça.

O que não deveria ser nada difícil, diga-se de passagem. Em minha relativamente curta passagem por estas bandas terrenas, tenho reparado que o que mais há por aí é gente que cuida da vida alheia. Estes representantes indignos da espécie constituem uma classe tão organizada e sólida da raça humana, que recebem até alcunha própria: Os chatos. E se você está achando que este é um texto direcionado a alguém especial, se engana -- neste preciso momento, garanto-lhe que há alguém tecendo considerações descabidas sobre você, sobre este autor e até mesmo sobre aquele tiozinho gente boa que vende cachorro quente na esquina. E nem adianta gastar seu latim tentando adestrar estes seres de prioridades duvidosas: Você vai falhar.

Felizmente, vivemos em tempos em que para cada problema existe uma solução. E a mais eficaz, aqui, é aquela a que todos nós temos acesso desde que nos tornamos capazes de balbuciar as primeiras sílabas: O palavrão. Marginalizado por uns, censurado por outros, o fato é que existem poucas coisas mais eficientes que um palavrão bem direcionado para abordar os chatos. “Todo mundo merece uma segunda chance, menos os chatos”. Mas merecem palavrões, são muito dignos deles.

Não há nada mais prazeroso que mandar alguém à merda, especialmente alguém desocupado o suficiente para crer que tem direito de opinião sobre a roupa que você veste, a asneira que você come, o cigarro que você fuma. E não só crê no tal direito como o exerce quase que tão naturalmente quanto respira. Por esta razão, são os chatos que nos proporcionam um deleite quase orgásmico quando exibem as mais desconcertadas expressões de surpresa ao ouvirem um sonoro “Vá à merda”.

Isso mesmo, meus amigos, um xingamento a um representante daquela classe provoca a mais genuina surpresa -- sempre. Porque os chatos, além de serem chatos, não tem consciência deste fato. Na verdade, todo chato que se preze se acha a pessoa mais legal do mundo. Sua voz é a mais melodiosa, sua companhia a mais agradável, seus comentários os mais lisonjeiros. Ninguém sensato poderia imaginar que ele é um chato, não ele. Na verdade, ele odeia os chatos com todas as suas forças, e até manda alguns à merda por iniciativa própria. E olha para trás, incrédulo de que é com ele, quando você finalmente perde a paciência, enche a boca e solta: “Vá à merda”.

Mas não podemos ser radicais. Até mesmo os chatos tem o direito de existirem, os pobres. Apóio seu movimento, e até mesmo prontifico-me a erguer bandeiras pró-chatice -- tudo pelo direito de ir e vir dos nossos primos desprovidos de ‘semancol’. Mas suplico que o façam bem longe de mim, para evitarem o constrangimento de serem enviados à merda.

Assim, posto que a extinção dos chatos está fora do nosso alcance, sugiro a reinstauração imediata do palavrão em todos os círculos sociais como medida sócio-educativa. Acabemos com o exílio, anistia ao palavrão! Ensinemos a nossos filhos, e aos filhos de nossos filhos, esta dádiva cultural tão injustiçada e efetiva para a manutenção do convívio social. E se não concorda, se acha que não existe nada mais feio que um xingamento, que não passa de agressividade injustificada: Você é um chato e este texto é para você. Vá a merda.



O autor no twitter: @fabio_piva