sexta-feira, 10 de junho de 2011

É o amo-o-o-or

Já é aquela época do ano, suponho -- os pares já começaram a trocar carícias mais acentuadas em público e sorrir bobamente por aí. Assim, já é aquela mesma época do ano -- aquela em que eu deveria escrever um texto boicotando o Dia dos Namorados. Né? É. Mas não vou. E se você veio aqui esperando por derramamento de sangue inocente dos corações apaixonados, adeus (ou não -- você pode reler o texto do ano passado).

(E sim, eu tenho uma metade para a minha laranja. E se por isso você veio aqui esperando um texto meloso e bonitinho, você obviamente não me conhece -- então adeus também.)

No entanto, tentarei me ater ao tema corrente. Pois sim, você advinhou -- vamos falar sobre Amor Romântico, ou como é conhecido por aí, simplesmente "Amor". É, Amor -- sabe o tal Amor? Aquele sentimento lindo, que move montanhas, que justifica toda e qualquer existência e que deveria ser o objetivo de todo e qualquer ser vivo na Terra? Esse mesmo. Esse, que ninguém sabe o que é, ninguém sabe sequer se existe, mas todo mundo deseja pra si. Essa mosca branca aí.

Sim, você entendeu direito -- eu estou dizendo que ninguém sabe o que diabos é o Amor. Porque se você perguntar para qualquer um, terá respostas tão absurdamente variadas que continuará sem saber também -- mais ou menos como naquelas pesquisas da TV em que o repórter pergunta aos passantes de alguma avenida idiotices como "Você sabe o que é Inclusão Digital?". Um poeta vai te responder que é "pura poesia, o mais nobre dos sentimentos". Um apaixonado vai te dizer que "é o que faz com que ele saia da cama todos os dias". Um cético vai afirmar que "são respostas a reações químicas que estamos programados a sentir para garantir a continuaidade da espécie". Um nihilista vai atestar que é "uma bobagem inventada para tornar a vida das pessoas menos miserável". O Zezé de Camargo vai te cantar uma música brega. E por aí vai. 

E se você perguntar para este autor... bem, minha resposta será um bocado mais longa, cinzenta e um tanto menos informativa -- mas vamos lá, afinal eu tenho um texto para desenvolver. Penso que o Amor é um troço besta de tudo, mais ou menos como um pé de couve -- algo que todo mundo tem perfeitas condições de obter, desde que esteja disposto a ir até a vendinha da esquina, pagar o preço, levar pra casa e cuidar direito pra não morrer. Não é poesia. Não é um artefato mágico. É um item de consumo, algo que a gente tem em alguns momentos da vida e não tem em outros -- e sobrevive sem maiores problemas nas duas situações. Você morre se não puder comer a couve da sua hortinha no almoço? Não morre. Assim como você não morre se ficar solteiro por um, dois ou quarenta anos. É chato, porque você gosta de couve -- mas ela não é essencial para a sua sobrevivência como o oxigênio que você respira.

E aí vem outra questão -- a busca pelo tal Amor. Todo mundo resmunga que "ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém esquenta meus pés nas noites de inverno" (compra uma meia, sua besta). Mas a verdade é que a maioria destes pobres indivíduos mal-amados não conseguiria reconhecer uma oportunidade romântica genuína nem mesmo se esta fosse um elefante vermelho, vestido de palhaço e cantando "Strawberry Fields Forever" há dois metros de distância do seu próprio nariz. Pode soar irônico, mas acredito que a maioria de nós passa metade da vida procurando uma alma-gêmea, e outra metade da vida fugindo dela -- sem sequer se dar conta disso. 

O que eu estou dizendo é que, se encontrar esse "Amor" é algo assim tão importante, talvez nós devêssemos tentar persegui-lo menos e olhar mais em volta. Vejo gente -- muita gente -- encasquetando em conseguir para si fulano, ciclano ou mesmo algum ideal inatingível de relacionamento -- enquanto há uma dúzia de "Amores Verdadeiros" ali mesmo, do outro lado da rua, esperando por uma chancezinha de existir. Pior -- vejo gente que já encontrou essa coisa de Amor, mas não acha que é aquilo ou não se preocupa em cuidar -- e acaba abrindo mão para tentar encontrar algo melhor. E se estrepa, é claro.

Pois é, em resumo é isso que eu penso sobre o Sublime-Sentimento. Amor, pra mim, é setenta por cento de Atenção. Cético? Talvez. Romântico? Nem um pouco. Mas realista. E se eu pudesse terminar o texto com uma frase feita batida, ela seria a seguinte: "Felicidade é amar tudo o que você tem, e não ter tudo o que você ama" -- mas não posso. Então, termino com um conselho que valeria tranquilamente para oitenta por cento da população: Pare de perseguir mais do que você já tem, merece ou pensa ser a chave da sua felicidade, ô seu energúmeno. Tudo o que você precisa está, provavelmente, ao alcance dos seus dedos -- se é que já não está na palma da sua mão.