sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Depressão


No final de 2010, recebi de um leitor um texto para publicação no Paciência. "Pesado", pensei. Guardei e acabei não postando.
Hoje, relendo os escritos do rapaz, achei um desperdício não tê-lo postado ainda. Você pode conferir outros textos do autor (poesia) no aqui: Se, entretanto, porque, portanto, como...

Obrigado pela contribuição, G. O. Seu blog já está linkado no "Leio e recomendo".

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Ele abre os olhos. A claridade que entra pela janela fere suas retinas, como se estivesse pacientemente esperando pela oportunidade de ser a primeira a saudá-lo da forma mais agressiva possível. "First blood", ele pensa, enquanto sorri ironicamente -- um sorriso falso, quase imperceptível, de canto de boca. Mais um dia pela frente. Mas antes disso, é preciso sair da cama -- sua algoz e amante. E ela se utiliza de todas as suas artimanhas vis para evitar que isso aconteça.

Relógio. Se acostumando aos poucos à claridade açoitante, ele busca o relógio. O display exibe os números em uma tonalidade de branco fria, indiferente: Um, cinco, dois pontos, três, zero. "Só mais quatro horas para o anoitecer", ele se reconforta. Nos últimos tempos, era no relógio que ele encontrava seu leal companheiro -- o objeto havia se tornado seu derradeiro vínculo com a realidade. Para ele, o tempo parecia passar de forma diferente, ao ponto de tornar-se impossível manter uma noção mínima do passar das horas. Dia e noite, eram as únicas coisas que ele reconhecia. Relógio e calendário -- ele precisava de ambos para sentir-se mais humano. "Tudo passa", imaginava, "até o tempo passa, mesmo que eu não perceba". E a cama continuava a vencê-lo com uma diplomacia impecável.

Motivação. Ele busca na memória qualquer resquício de obrigação que lhe sirva, mesmo que contra a sua vontade, como pretexto para se levantar. O emprego com horário flexível, outrora tão conveniente, é agora mais um de seus tantos antagonistas invisíveis. Não, o trabalho não é o caminho -- e mesmo que fosse, sua concentração seriamente debilitada não o permitiria dedicar-se às suas obrigações profissionais por muito tempo. Um hobby, talvez? Ele se imagina envolvido em inúmeras tarefas que outrora lhe dariam prazer -- a leitura, uma cerveja com amigos, um bom bate-papo, a escrita -- mas nenhuma parece convidativa agora. A cama parece abraçá-lo com garras invísiveis, que agem sobre seu corpo inerte como uma droga paralisante.

"Drogas" -- ele olha contemplativamente para a caixa azul e vermelha que jaz sobre o criado-mudo. "Clomipramina", lê-se no rótulo. Ele pensa se a motivação que procura não estaria ali, ao seu alcance, perdida entre as cartelas do antidepressivo. "Um comprimido por dia, na hora do jantar" -- as palavras da psiquiatra, proferidas uma semana antes, retornam à sua mente como que com o único intuito de desencorajá-lo a recorrer à ajuda química. "Pros diabos", ele pragueja, "não está funcionando, de qualquer forma. Só mais quatro horas e já será hora do jantar e..."

"Quando foi a última vez que comi?" Ele não se recordava. Fazendo um esforço homérico, se lembra do sanduíche ingerido há quarenta e oito horas -- a última vez em que sentiu fome. "A clomipramina vai abrir seu apetite" -- novamente as palavras da sorridente psiquiatra retornam à sua memória. O sorriso apagado retorna ao canto da boca, e ele se recorda das palavras de um velho amigo: "A medicina é uma ciência medieval -- pura tentativa e erro." Se dirigindo para a caixa sobre o criado-mudo, como se ela fosse capaz de ler seus pensamentos, ele balbucia em um sussuro meramente audível: "Erro."

Seu companheiro, por outro lado, trabalha incesantemente. Um, seis, dois pontos, dois, quatro. Ele reúne as energias acumuladas pela longa noite de sono -- como pode sentir-se exausto, mesmo após dormir tanto? -- e se senta na cama. Um suspiro de alívio se segue à pequena vitória. A cama, por sua vez, não se dá por vencida -- e parece gritar para que ele se deite novamente. Um urro hediondo, ele pensa, mas magnético: Basta que ele se deixe cair, basta que ele pare de lutar contra o mundo, e tudo ficará bem. Mas ele sabe que não pode. E de forma nada resoluta, ele arrasta as pernas -- primeiro a esquerda, depois a direita -- e toca os pés no chão. Está de pé.

Enquanto pensa no próximo passo, ele acende um cigarro de cravo -- o primeiro de muitos, naquele dia. A fumaça que escorre para dentro de seus pulmões lhe traz um breve bem estar -- que nem os comprimidos, nem o álcool, nem o descanso parecem ser capazes de produzir sobre aquele corpo e mente abatidos. "Nem sempre foi assim", ele recorda, "nem sempre eu fumei tanto". Ele volta o olhar para o criado mudo, uma teceira vez, e completa mentalmente: "E eu nem sempre precisei de comprimidos. Não até que eles surgissem. Não até que eles me derrubassem."

Eles. Ele evitava de pensar neles, crendo que sua sanidade dependia diretamente de sua capacidade de mantê-los soterrados num canto escuro da memória -- lembranças de um pasado que nunca poderia ter feito parte de sua história. Mas todos os dias eles retornavam, mesmo que por alguns segundos, na forma de fantasmas que se recusavam a ser exorcizados. E embora já tivessem partido há meses, o rastro de destruição deixado nas ruínas do que ele havia sido um dia o impediam de esquecer. Os cacos que ele tentava juntar ainda estavam ali -- lembretes da pilhagem cruel protagonizada por aqueles monstros. E embora ele fosse ávido entusiasta por quebra cabeças, não conseguia se divertir em tentar juntar suas próprias peças. Não conseguia montar uma figura que sequer se aproximasse de um ser humano. Relógio e caledário -- sua humanidade residia em seu relógio e calendário.

Comida. Ele decide que, com ou sem fome, não pode completar três dias consecutivos sem comer qualquer coisa que seja. Olha pela janela e assiste os passantes, alheios à batalha travada diariamente dentro daquele apartamento térreo mínimo. Assiste e os reconhece como ameaças -- o mundo exterior lhe parece particularmente assustador há dias. Mesmo assim, ele decide sair. "Um pouco de normalidade", ele pensa. "Sair, ver gente, comer. Vai me fazer bem." Ele se dirige à porta, gira titubeantemente a chave e sai.

O caminho até o restaurante é longo -- ou lhe parece interminavelmente longo. A claridade e a brisa morna do entardecer o fazem sentir-se deslocado, como se ele não fizesse parte daquele cenário. Mas ele caminha. As vozes dos passantes parecem proferir palavras alienígenas que ele não compreende -- como se tivesse desaprendido seu próprio idioma. Seus olhos voltados ao chão, sempre, como se estivessem procurando alguma coisa -- talvez sua motivação perdida. Mas ele sabia que não a encontraria -- pois sua motivação não havia caído de seu bolso como um molho de chaves, não; havia sido arrebatada de seu íntimo. Arrebatada por eles.

O chacoalhar da cabeça para dissipar aquelas lembranças coincide com a chegada ao restaurante. Ele se decepciona ao sentar-se na mesa, abocanhar o sanduíche e notar que continua sem apetite algum. "Meu corpo está desistindo", ele teme. Mas ele não desiste, não assim fácil: devora, mesmo sem fome, metade do sanduíche. E retorna para casa pelo mesmo caminho, exercendo a cada passada o mesmo esforço, carregando a outra metade do lanche -- que, ele espera, será bem vinda mais tarde. A bituca de mais um cigarro atinge a calçada irregular que ele deixa para trás quando entra finalmente no apartamento, sentindo uma desconfortável sensação de segurança por estar novamente em casa. Ao fechar a porta, ele se depara com sua carrasca irrepudiável: A cama.

As batalhas insignificantes, as lembranças torturantes, as empreitadas corriqueiras -- que para ele se faziam conquistas épicas -- são suficientes para exaurir o resquício de energia que ele precisaria para resistir ao olhar convidativo daquela cama. E ela chama, se insinua, o convida. E ele cede, enfim -- mas não sem antes, em um derradeiro ato de bravura, apertar o play do aparelho de som. A música ecoa através do imóvel e entra por seus ouvidos, reproduzindo um efeito semelhante ao do cigarro de cravo encaixado entre seus dedos. Enquanto Johnny Van Zant canta no rádio, ele se esparrama no colchão -- sentindo como se seu corpo tivesse finalmente encontrado seu lugar no mundo, após tanta procura. A noite cai, e ele rompe a inércia -- somente para esticar o braço e apanhar o comprimido que, ele sabe, não fará a menor diferença para seu estado de espírito. O comprimido desce pelo esôfago, seguido por outra rajada de fumaça doce. Com seu cinzeiro, seu calendário e seu relógio ao lado, ele nota a lua cheia através das barras da janela. E quando finalmente a clomipramina começa a relaxar seus músculos, os sonhos -- ou seriam alucinações? -- começam a se misturar com as palavras que dançam pelo quarto antes de encontrarem seus tímpanos:

"But I'm not home, I'm not lost
Still holdin' on to what I got
Ain't much left
No there's so much that's been stolen
I guess I've lost everything I've had
But I'm not dead, at least not yet
Still alone, still alive, still unbroken"

E ele fecha os olhos.

Autor: G.O. 


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O pequeno equilibrista

Em uma dessas noites, estava eu sentado na porta do hall do meu prédio a observar a chuva. E foi quando notei algo insólito: Um gato Um rato gigante O E.T. Bilu Um quadrúpede não-identificado, que passeava serelepe por cima dos cabos telefônicos/fios elétricos que conectavam os postes alinhados na rua.

Passei os próximos minutos daquela madrugada ali, tentando entender como diabos aquele ser peludo e gorducho conseguia percorrer tão habilmente sua corda bamba. Era como se ele não se importasse de estar há cerca de vinte metros do chão, altura que certamente o mataria caso ele despencasse dali. E seja lá qual fosse o motivo das idas e vindas kamikazes daquele bichinho, ele parecia bastante concentrado em seus afazeres: Saía da árvore que possivelmente continha sua toca, atravessava para um poste, seguia para o poste seguinte, pegava algo com a boca e retornava – sem se deixar distrair ou interromper pelo que quer que fosse. Aliás, minto – vez ou outra ele diminuia o ritmo das passadas estreitas para corrigir a posição do rabo, que parecia ser seu instrumento responsável por contrabalancear o peso do seu corpo para mantê-lo equilibrado sob aquelas perigosas condições. 


E foi então que eu me dei conta de algo bastante interessante. Eu, um representante da espécie humana – que se auto-intitula a mais evoluída/inteligente/racional/etc do planeta – estava ali, maravilhado com uma criaturinha que, embora aparentemente “inferior”, se mostrava capaz de realizar algo de que muitos dos meus semelhantes – eu mesmo incluso – não seriam capazes. E após muito refletir sobre os super-poderes do pequeno equilibrista, só pude chegar à seguinte conclusão: Nossa brilhante capacidade intelectual nos faz também profundos apreciadores de problemas – tanto que muitos de nós acabamos por nos apropriar dos problemas alheios, ao invés de cuidarmos de nossas próprias vidas. E assim, não nos sobra muito tempo ou poder de concentração para conseguirmos nos especializar em habilidades maravilhosas, como aquela de percorrer longas distâncias sobre cordas estreitas. 


Mas aquele pequeno animal não era um ser humano. Ele era um pequeno equilibrista, e não tinha nenhum problema – muito menos problemas alheios – ocupando-lhe a mente naquela noite chuvosa. Suas preocupações se resumiam em manter seu equilíbrio e prestar atenção no próprio rabo, e nada mais. E talvez por isso, ele fosse capaz de feitos que nem o mais preparado dos seres humanos seria capaz de realizar com tanta desenvoltura. 


Eu aprendi muito com aquele pequeno equilibrista naquela noite. Ele não confiava nos postes, que não tendo sido erguidos por ele próprio, não poderiam ser confiados. Ele parecia alheio aos carros que, embora transitassem na rua logo abaixo, também não lhe diziam respeito. Ele atentava apenas ao próprio rabo – este sim estava sob seu controle e influenciava na sua vida. E ainda que não tenhamos rabos, acredito que os geniais membros da nossa espécie deveria tomar aquela criaturazinha como exemplo. Talvez – só talvez – se passássemos mais tempo concentrados em nossas próprias vidas, e nos fatores que de fato nos dizem respeito – ao invés de nos distrairmos com o que acontece no mundo à nossa volta – conseguíssemos nos tornar seres mais equilibrados. 


Enfim – o que aquele bicho estranho me ensinou o seguinte: Problemas todos nós temos. O segredo para a convivência tranquila com nossos semelhantes é nos preocuparmos com os nossos – ao invés de perdermos tempo avaliando as atitudes alheias, que sequer nos dizem respeito, ou mesmo formulando julgamentos precipitados sobre o que acontece à nossa volta. Preocupe-se com a sua corda bamba, e deixe que eu me preocupo com a minha – atentemos, todos nós, para nossos próprios rabos. Afinal, se até aquele pequeno ser intelectualmente menos desenvolvido do que nós tem consciência de que sua existência depende somente disso, não deve ser sem razão.



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Dicas de conquista para o nerd moderno

Ah – as dificuldades presentes nos rituais de conquista. Chamar a atenção do sexo oposto nunca foi conhecimento empírico para a maioria dos exemplares do sexo masculino da nossa espécie – ainda mais em tempos tão desleais como estes em que vivemos. Mas você faz o tipo intelectual, usa aquele par de óculos charmoso e confia na sua erudição para se fazer interessante. Você tem graduação/mestrado/doutorado em filosofia/engenharia/algo-que-o-valha, fala de ciência sem parecer pedante, se veste de forma elegante-mas-não-fresca, deixa a barba por fazer para dar um toque misterioso-bad-boy ao seu estilo bonitão-com-conteúdo. Certo? Errado. Tudo errado, tudo. É com muito pesar, caro leitor, que eu lhe informo que mulher não gosta de nada disso. Mulher que é mulher gosta de MACHO ALFA. Nerd não é macho alfa. Mas não tema – este breve tutorial lhe servirá bem para iniciá-lo no tortuoso caminho para tornar-se um Uber-XY, uma máquina de produzir testosterona: Ao final deste minicurso, você terá aprendido os conceitos básicos para se tornar um autêntico ás da pegação de nível mundial. 

CALMA – não importa se você é virgem. Siga estas dicas e deixará de sê-lo em breve. Agora deslogue do World of Warcraft e me dê alguns minutos de sua atenção. Estou prestes a salvar a sua vida, pequeno gafanhoto. Comecemos:

CURSO BÁSICO DE CONQUISTA – AULA UM

1)     Então você se vale do seu intelecto como arma de sedução – seu pobre diabo. Em primeiro lugar, esqueça qualquer vislumbre que você possa ter do tipo “intelectualmente erótico” que elas dizem por aí que cultuam –  isso aí é coisa inventada pela Globo para que você não pegue ninguém. Mulher gosta daquilo mesmo que você passou a adolescência toda achando que elas gostavam, e que nada tem a ver com a sua genética meia-boca: Fortões descerebrados cheirando a CC, que não entendem nada de ciência, filosofia, política e outros assuntos completamente irrelevantes para a procriação humana. Assim, se você tem uma bagagem intelectual invejável até aos grandes cérebros da história da humanidade, GUARDE-A PARA VOCÊ. Nunca, em hipótese alguma, tente conquistar uma mulher no papo. Você vai falhar. Elas não dão a mínima para o seu cérebro. Elas só querem seu corpinho malhado, seu queixo quadrado e seus genes de provedor.

2)     Tipo físico. Eu sei, você sempre ouviu dos seus familiares/ex-namoradas/amigas que você gostaria de pegar que o que realmente importa é “o conteúdo”, e não o exterior. RÁ! Balela. Tudo intriga da oposição, teoria de conspiração criada para desviar você do caminho do sucesso, meu querido. Seu tipo físico importa PACAS – e você sabe muito bem qual elas preferem: Fortão, abdomem tanquinho, coxas capazes de estrangular um leão com um mata-leão. Se você está ainda se perguntando “mas e meus diplomas?”, pare a leitura e retorne para o item 1). Caso contrário, você já sabe o que fazer: Tranque sua faculdade/pós-graduação e entre em uma academia. NÃO! NADA DE AERÓBICA! Musculação, pombas. Pelo menos dezesseis horas por dia de pura musculação, a atividade predileta de todo macho que se preze. Yeah.

Corolário de 1 e 2: “Seu trapézio deve ser sempre maior que seu cérebro.”

3)     Está acompanhando, caro leitor? Então vamos falar do seu guarda-roupas. Primeiro, desfaça-se de todas as camisetas xadrez “estilo-PC-Siqueira” que você tem lá. Elas não querem isso aí. Dirija-se a uma loja DE MACHO e adquira uma porção de camisetas específicas para malhação, todas um número menor do que você usaria normalmente. Se você está de fato levando esse curso a sério, já estará matriculado em alguma academia – e não tarda a se tornar um brucutu truculento. Se este for o caso, parabéns: Você já pode – e DEVE – comprar regatas. Use-as com orgulho, o mais coladas possível em seu corpo inchado por exercícios intensos e substâncias químicas ilegais.  

4)     Vocabulário. Como já foi dito aqui, elas não querem conversar com você – para isso, elas têm as amigas e os cabeleireiros. Esqueça palavras com mais de três sílabas e que não são ditas no Big Brother; dessa forma, você pode utilizar seu cérebro para armazenar um número maior de gírias – que você aprenderá na academia com seus colegas de pegação – e onomatopéias vidaloukísticas. Exemplos: “Uhuuu”, “waaaaaah”, “ieeeeeééééaaaaaaa”, são completamente afrodisíacas.

5)     Cheiro. Calvin Klein? Ralph Lauren? SEU BICHA. Jogue fora todos esses perfumes de boiola que você tem aí na sua prateleira. Aliás, jogue fora seu desodorante também – “desodorante” é outro nome para “desmasculizante”. Elas gostam de cheiro de testosterona, meu! Sim, você entendeu bem – suor, transpiração, CC. O raio de influência da sua sensualidade é diretamente proporcional ao alcance do seu cheiro de homem. Você quer uma FÊMEA para arrastar para sua caverna pelos cabelos, não quer? Então EXALTE SUA ANIMALIDADE. Graur.

6)     Programas. Então você acha que já está encaminhado no mundo da pegação e quer testar seus conhecimentos, certo? Ótimo. Você arrumou um encontro com uma “cocota”. Onde levá-la? Inicialmente, deixemos claro onde NÃO levá-la: Cinemas (coisa de cinéfilo bicha), museus (coisa de nerd que não fez este curso), teatros (coisa de viado-gay-viado), cafés (coisa de quem não trepa). Motel direto, pode – ela vai curtir, mesmo porque é isso que ela espera de você. Mas se você preferir pegar leve, tudo bem: Antes do motel, leve sua cocota para a “night”. Certifique-se de escolher uma boite bem badalada, que toque muito “puts-puts” (a sinfonia dos Deuses da Testosterona) e informe-a da sua escolha: “Meu bem, vamos pra night. Waaaah!”. Score: Ela já estará a seus pés antes mesmo que o DJ coloque “I’ve Got A Feeling” para tocar. Congrats.

7)     Locomoção: COMPRE UM CARRO! Esqueça o transporte público, e esqueça mais ainda aquela bicicleta que você usava para ir até a faculdade. Aiás, esqueça QUALQUER COISA QUE REMETA À FACULDADE – com exceção das festas em repúblicas. Estas você continuará/passará a frequentar constantemente – serão seu matadouro por opção.

Bem, você já tem com o que começar, caro gafanhoto. Espero que estas dicas façam por você o mesmo que fizeram pelos antigos alunos deste curso – e que hoje, são exímios ídolos mundiais do mulherio sexualmente ativo. Não, não precisa me agradecer – apenas propague este texto em seu círculo social de amigos que envergonham a nata masculina. Salve outras almas. Abaixo, deixo um pequeno incentivo: O trabalho de conclusão de curso de um dos nossos mais bem-sucedidos ex-alunos, o formando Rodrigo Ferraz. Orgulho desse menino!



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Amizades for dummies


SIM – eu sou anti-social. Até demais, diga-se de passagem. Mas sendo anti-social, prezo demais as minhas pouquíssimas amizades. E por essa razão (e por tantas outras que não convém relatar aqui), me considero em posição favorável para palpitar a respeito de uma das mais pseudo-valorizadas dádivas da sociedade: A amizade. E a amizade, diga-se de passagem, é algo valioso – mas quando mal aplicada, pode ser facilmente confundida com pentelhice. E você não quer ser um pentelho de carteirinha, quer, caro leitor? Imaginei.

Sim, eu disse que a amizade é pseudo-valorizada. Porque todo mundo prega por aí que amigo é coisa pra se guardar, mas a verdade é que ninguém guarda direito – e os poucos que tentam, guardam tão bem que não se lembram depois onde foi que colocaram. Sim, amigo é mesmo coisa para se guardar. Mas debaixo de sete chaves, só o que você não usa frequentemente – porque ninguém quer ficar destrancando uma porção de fechaduras para ter acesso a alguma coisa que faz falta no dia a dia. Assim, melhor mesmo é guardar na estante ou numa gaveta que não pegue muita poeira – algum local protegido, mas que facilite o acesso nos momentos mais importantes, bons ou ruins. Pelo menos é isso que eu procuro fazer com os meus.

Então vamos lá: Desbanquemos algumas falácias bradadas pelos quatro cantos do mundo sobre as amizades. Talvez você já saiba de tudo que eu estou prestes a expor aqui, ou talvez não. De qualquer forma, espero ser capaz de lançar luz sobre alguns pontos que considero fundamentais nestas estranhas relações sociais que se estabelecem entre duas ou mais pessoas, que se juntam para compartilhar tudo o que a vida traz de melhor e pior. Bem, prossigamos.

Em primeiro lugar, amigo não é aquele cara que está sempre lá para você. Ahn? O que? É isso mesmo. Seu amigo querido é, antes de qualquer coisa, uma pessoa – a menos que seja um bicho de pelúcia ou boneca e pano, mas isso foge da normalidade do escopo deste texto. E sendo uma pessoa, seu amigo tem – sim, você advinhou! – uma vida própria. E essa vida é também repleta de problemas, assim como a sua. Portanto, seu amigo pode não estar sempre disponível para te escutar choramingar ou trazer soluções para as situações bizarras nas quais você mesmo se meteu sozinho. E isso não faz dele um mau amigo, não senhor. Só faz dele um ser humano complexo como você mesmo. E se ele for um bom amigo, estará disponível sempre que possível – mas cabe a você compreender que isso não acontecerá sempre que você estalar os dedos. Sim, caro leitor – você também precisa ser um bom amigo para o seu bom amigo, e compreensão e respeito são fundamentais nesta empreitada. Nunca se esqueça disso. Tá anotando? Próxima lição.

Segundo, e não menos importante: Espaço. Gente precisa de espaço; amigo é gente; logo, por transitividade matemática, amigo precisa de espaço. CALMA – eu não vou começar a falar de matemática aqui: Só estou utilizando o vocabulário formal da disciplina-master para expor uma idéia que deveria ser óbvia. Às vezes, e tantas vezes, as pessoas – sejam elas suas amigas ou não – precisam passar um tempo acompanhadas exclusivamente por elas mesmas. Às vezes, a vida nos impõe momentos que só são plenamente aproveitados após uma reflexão auto-ostracista. E isso não significa que, se aquele seu amigo tão eloquente está passando um tempo longe das ferramentas de comunicação tradicionais, ele está te evitando – de maneira nenhuma. Talvez ele só esteja pensando na vida, revendo conceitos. E talvez ele precise fazer isso sozinho, antes de pedir seu auxílio para debater sobre as conclusões a que chegou consigo mesmo. Afastamento egoísta? Talvez. Mas o ser humano precisa ser egoísta, vez ou outra. Você também precisa ser – e é – egoísta vez ou outra. Respeite esta realidade imutável sobre a espécie e você viverá mais feliz e menos solitário – por mais contraditório que isso possa parecer.

Está acompanhando, querido leitor? Ah, que ótimo. Então, passemos à lição número três – que é apenas uma conjunção das anteriores: Amigos vivem. E viver, como você bem sabe, implica em cometer erros. E errar, como você aprendeu na escolinha, implica muitas vezes em mudar e machucar os outros. Mudar para pior? Nem sempre. Machucar os outros de propósito? Tampouco. O ponto é que viver é isso aí – pisar no calo de alguns enquanto tentamos evoluir e aprender. Esperar que seu amigo seja hoje a mesma pessoa que ele era há dez anos, quando você o conheceu, é surreal, frustrante e... bem, idiota. As pessoas mudam todos os dias, como consequência das experiências que elas vivem ao frequentarem esse mundão de meu Deus. E lembra? Seus amigos são pessoas.

Mas tudo bem, não se aflija – muitos de nós são providos de uma necessidade incontrolável de questionar, e compreender as razões por trás de cada passinho/mudança que seus amigos protagonizam na vida. Particularmente, não vejo nisso nenhum problema – basta que você procure conhecer a situação como um todo antes de formar opinião a respeito das atitudes dos seus fiéis escudeiros. Muitas vezes, você pode presenciar uma situação que envolve dois ou mais dos seus super-master-blaster-melhores amigos. E em geral, tal situação não lhe dirá respeito algum – mas tavez você seja um amigo tão bom, mas tão bom, que PRECISARÁ compreender o evento da melhor forma possível para auxiliar seus pares. Se você se enquadra neste perfil, seja sensato: Procure ser imparcial. Palpite, mas só quando lhe for solicitado. Forme opinião, mas apenas quando conhecer todos os fatos relevantes e versões sobre o ocorrido que for capaz de assimilar. Caso contrário, você não estará sendo um bom amigo – só um palpiteiro irritante que gosta de ver o circo pegar fogo. E esses, meu caro, ninguém gosta de ter por perto.

Por fim, mas não menos importante: Amigos de verdade não se afastam indefinidamente. Se você perdeu contato há tempos com alguém que lhe faz falta, procure-o. Talvez ele também sinta saudades de você. Talvez ele não tenha te esquecido, nem tenha deixado de apreciar sua companhia. Talvez ele esteja passando por um daqueles momentos auto-ostracistas explanados acima, ou talvez ele esteja precisando de um ombro amigo mas não saiba onde procurar. E é aí que você tem, caro leitor, a chance de mostrar como você pode ser um bom amigo para o seu bom amigo: Mostre-se disponível, mas sem invadir o espaço/privacidade do seu camarada. Se ele estiver precisando de você, estenda a mão. Se ele preferir ficar quietinho por mais algum tempo, respeite – ao invés de sair por aí bradando para todo mundo que fulano mudou e não se lembra mais dos amigos. Isso seria no mínimo uma atitude babaca desleal. E procure se lembrar de que você também já teve momentos em que precisou se afastar do mundo para resolver algum problema.

Guardem seus cadernos, larguem suas lapiseiras – por hoje é só. Espero ter sido capaz de esclarecer alguns pontos fundamentais para quem gosta de ser especial para alguém – seja esse alguém um bicho anti-social como eu, seja um alguém mais carismático. Tenho procurado aplicar estes conceitos no meu dia a dia, e não posso reclamar dos resultados. Não, eu não tenho tantos amigos assim. Mas dos que tenho não posso reclamar – e isso tem me sido mais que o suficiente.