“E aí, Jesus!” – já me acostumei a olhar para trás com um sorriso
amarelo. Aparentemente, os cabelos longos e castanhos, o cavanhaque, a pele
branca, os olhos azuis e as feições ligeiramente européias fazem de mim uma espécie
de sósia de um sujeito nascido na Judeia – terra que ficava mais ou menos onde
se localiza hoje a faixa de Gaza. Mas eu não pretendo gastar linhas e mais
linhas discorrendo sobre o quão absurda essa tese é sob o ponto de vista geográfico,
genético e/ou antropológico – não. Para isso você pode contar com a programação
especial de natal do Discovery/History Channel, ou até algum especial sobre a
vida e obra do messias no National Geographic. E convenhamos – que o nosso
querido JC não era nenhum branquelo azedo já é algo relativamente bem aceito há
cerca de dez anos, e por boa parte da comunidade cristã [por mais incrível
que isso possa parecer].
Não, pouco me interessa se o
Filho do Homem tinha cabelo de bombril, nariz de batatinha e beição. E também não
me ofendo ou me importo – ainda que já tenha abandonado há tempos minhas raízes católicas –
em ser comparado com Sua Divindade; nem me irrito que isso aconteça todo santo
ano. O que me incomoda de fato nessa historinha de “olha lá, é o Messias no McDonalds!” é que ela acontece sempre,
invariavelmente e sem falha todo ano... exclusivamente em Dezembro.
Pausa para uma observação
sobre este autor: Eu uso cavanhaque e cabelos longos há cerca e oito anos. Nesse
período, nunca cortei as madeixas – e raramente faço a barba completamente. Os
demais atributos físicos que hipoteticamente me fariam lembrar um hipotético
filho de um hipotético Deus estão lá há... bem, desde que eu nasci. Logo, só
posso concluir que, se eu me pareço de fato com o mártir cabeludo, o faço por nada menos que trezentos e
sessenta e cinco dias por ano. Certo? Certo. Mas os fiéis devotos de Nosso Senhor só notam em Dezembro, quando é
o hipotético aniversário do hipotético cabeludo.
Mas qual é o meu ponto, meu
hipotético Deus do céu? Simples: Amanhã é natal – seja lá o que isso
represente para você. Mas particularmente para uma maioria da população
brasileira que se diz cristã, é simplesmente uma das datas comemorativas mais
importantes do calendário religioso. É quando se comemora o aniversário daquele
que veio à Terra para render os pecados da Humanidade – o que, na minha humilde
opinião de hipotético sósia, parece ser algo um bocado trabalhoso e digno de
admiração, supondo que tenha de fato acontecido assim. E se para você o natal celebra a memória desse cara que protagonizou tudo isso aí... bem, você deveria se lembrar dele mais vezes por ano. Pelo menos eu acho.
Assim, aproveito esse tempinho de vocês para desejar um feliz natal a todos os fiéis (e infiéis também) leitores do Paciência
Negativa. E seja lá o que for que a data significa para você, seja lá qual
for o motivo da comemoração, aproveite -- de preferência acompanhado de quem você ama.
No entanto, o que quer que você comemore nessa época, não deixe para celebrar apenas em Dezembro -- leve para o ano todo. Solidariedade, benevolência, amor ao próximo, reunir a família, lembrar de “deus” e até uma boa bebedeira com os amigos são hábitos aconselháveis também nos demais dias do calendário. Fica a dica.